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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Conto: O insano diário de um amigo meu - Parte 1




Bem, Olá. Estou escrevendo isso em um telefone celular roubado, por isso peço desculpas antecipadamente pela péssima ortografia. Eu não estou totalmente certo como abordar isto. Provavelmente seria melhor se eu falasse um pouco sobre mim mesmo em primeiro lugar. Meu nome é Carter e eu vivo em uma instituição mental. Não se preocupe, é uma instituição pacífica que é a principal razão pela qual eu vim para cá. Eu tenho fobias graves e tenho suspeita de sofrer de crises de esquizofrenia. Basicamente, eu tenho medo de quase tudo o que tem potencial para não assustar ninguém (incluindo, mas não limitados a carros, águas mais profundas de 3 pés, multidões, pessoas em jaquetas de couro e todos e quaisquer insetos).

Meus medos são a razão pela qual eu tinha me comprometido com esta instituição e o motivo de conhecer Joel. Quando Joel veio a esta instituição, ele estava louco de medo. Ele tinha alucinações constantes e parecia completamente incapaz de interagir com as pessoas ao seu entorno. Por eu ter um estado semelhante de espírito (e muito menos louco do que a maioria dos outros pacientes aqui) eu acompanhava muitos de seus exames psicológicos para ver se isso estava tendo um efeito positivo sobre qualquer um de nós. Com o tempo, Joel recuperou grande parte de sua sanidade e nos tornamos grandes amigos, principalmente porque poderíamos realmente manter uma conversa sem qualquer um de nós pensar que éramos George Washington atrasado para sua cruzada no Delaware.

Cerca de 2 meses atrás, Joel estava saindo. De acordo com os médicos, ele tinha tido uma recuperação completa e estava pronto para se juntar a sociedade novamente. Uma semana depois de sair, o médico e vários outros membros da equipe se reuniram para um experimento psicológico. Desde então, eu não ouvi nada deles. Eu sei que algo aconteceu, a polícia chegou e questionou todos (com sucesso limitado para a população em geral, é claro) e o pessoal realizou algum tipo de vigília. Os pacientes não foram autorizados a saber o que aconteceu. Em seguida, duas noites atrás, algo aconteceu. Eu vim para o meu quarto para encontrar um livro gasto e com capa de couro na minha cama. Eu já tinha visto Joel escrendo em um livro semelhante, em algumas ocasiões, o terapeuta pensou que poderia ajudá-lo a superar suas alucinações. Eu acabei lendo o tal livro. Nunca fiquei tão aterrorizado em minha vida. A dor que meu amigo passou, meus medos irracionais parecem tão mesquinhos e estúpido em comparação. Várias páginas estão faltando e alguns são ilegíveis mas muito do que ha lá, parece ter sido escrito recentemente. Talvez seja uma brincadeira, feita por alguns dos enfermeiros mais sádicos, mas eu não acredito. Em todo caso, me senti obrigado a compartilhar isso. Então eu roubei um telefone celular de um dos enfermeiros (isso me assustou tanto que só de fazer isso, senti uma certa melhoria da minha condição normal) e sentei-me agora, no meu quarto e escrevo as crônicas do meu amigo, que parece ter descido ao mais baixo nível de loucura.


24 de Maio - parece uma data normal. No entanto, foi o dia do baile de verão há muitos anos em Dwight Fuller naquela escola do ensino médio. E também é a data em que um terrível incêndio queimou quase todos os presentes vivos, em uma vingança cheia de dor e inferno. A tragédia que marcou o fim de uma comunidade e o início de uma longa história de contos assombrados. Eu e vários amigos tínhamos nos conduzido até lá, na esperança de ascender algum terror em nós mesmos, apenas algo para fechar nossa adolescência com chave de ouro, antes de irmos para a faculdade e nos tornarmos adultos. Havia sete de nós. Viemos com muita cerveja, um pouco de erva e pretendíamos passar a noite. O relógio marcava 21:24 quando fechamos as portas.
Oficialmente, 6 horas mais tarde, eu estava correndo pelos corredores do terceiro andar, que pareciam não ter fim. Uma eternidade que o inferno gerou, com enlouquecedora visões de crueldade, morte e o nosso tão cobiçado terror. Eu estava gritando, estava coberto em sangue e estava sendo perseguido. Várias mãos se estenderam para mim, puxando minhas mangas, apertando meu colarinho e tentando me manter lá, com fizeram à todos os outros. Havia tantos. Eu vi meu destino: uma janela de vidro. Eu não pensei sobre a altura, nem a dor inevitável do vidro quebrado me cortando em todos os lugares, eu só queria sair. Enquanto uma última ameaça de dor e morte chegava aos meus ouvidos, murmuradas por algum demônio aprisionado neste inferno em ruínas, eu me joguei pela janela. O vidro me cortou, mas não tanto quanto as meninas loiras  com seus bisturis. A queda foi significativa, mas foi uma mera brisa de verão em comparação com as escadas em que o técnico me jogou. O pouso foi apenas um pouco pior do que o espancamento que aquela figura mascarada tinha me dado.
A percepção de que eu não estava morto me atingiu como uma tonelada de tijolos. Alguém estava gritando comigo. Minhas pernas estavam quebradas, disso eu tinha certeza. Isso significava que eu não podia correr mais. O único pensamento que meu sistema cognitivo me permitia ter era a de que eu não tinha batido no chão. A rachadura de vidro e o baque de uma folha de metal sendo desintegrado sob o meu peso me dizia que eu havia me estatelado em um carro. Lembro-me de pensar "Ah cara, se Stevie não estivesse morto, ele me mataria por arruinar a van da sua mãe". Foi neste momento que uma voz me despertou, e mais uma vez, eu percebi que não estava sozinho. Meu coração disparou, assim como minha consciência das múltiplas fontes de dor, que vinham como ondas em uma tempestade batendo em um penhasco, e foi apenas por pura força de vontade que eu pudesse abrir meus olhos para encontrar meu mais novo algoz. Eu olhei os olhos chocados de um policial. Alguém deve ter chamado a polícia, talvez pelos carros fora do edifício fechado, talvez pelos gritos horríveis que emanaram do edifício. Naquele momento eu percebi que estava salvo, eu tinha jogado o jogo, segui o curso, terminei a batalha e sobrevivi. Fechei os olhos, sentindo a tensão no meu peito diminuir. Estava ciente que eu chorava, por causa da vida de dor que eu tinha acabado de resistir, eu deixei o homem de uniforme me levar até seu veículo de patrulha. Senti uma profunda gratidão por estar vivo. Levei alguns momentos para juntar forças o suficiente para encarar o meu salvador. Eu abri meus olhos e vi um rosto mutilado, pedaços de metal que furavam suas bochechas de dentro à fora, um buraco em sua cavidade ocular e todo o couro cabeludo em falta, mostrando o crânio sangrando. Em algum lugar longe, uma voz me perguntou se eu estava bem. Eu quase ri do absurdo da pergunta. Em vez disso, eu gritei. E isso é tudo que eu fiz por muito tempo depois. 
Voltando ao mês passado, lá pro dia 14 ou 15 ou algo assim, é difícil manter a noção do tempo (a medicação faz isso) e eu estou sentado em frente dr. Connely. 
"Quatro anos" - ele murmura, como ele tem feito nas últimas semanas. "Faz quatro anos que você está conosco" Então você diz ao doutor: "Você vêm dizendo isso há algum tempo." O doutor é um cara legal, mas chega um momento em que até mesmo o seu melhor amigo, mãe ou psicólogo se tornam muito irritantes. "Eu só estou me lembrando do tempo em que você esteve melhorando. Como as alucinações estão indo?" Ele escreve algo no seu bloco. Eu olhei para ele um par de vezes. Ele parecia fazer apenas rabiscos. "Elas têm feito exatamente isso doutor, indo e desaparecendo. Eu não senti mais nada, desde que você me deu essas pílulas no ano passado" Eu estou mentindo, é claro, eu me tornei muito bom nisso. Uma jovem garota chamada Beverly me ensinou a mentir de forma eficaz. Ela mentiu muito em Dwight Fuller. Ninguém mente como uma adolescente de beleza majestosa. Ela está sentada na mesa a pintar as unhas. Eu tento ignorá-la. 
"Bem, você têm mostrado progressos notáveis ​​nos últimos meses. Você ainda vê a pessoa mascarada nas sombras?" - Ainda bem que o quarto está totalmente iluminado, porque se aquela coisa estivesse lá também, eu não teria sido capaz de manter a minha cara séria. "Nem um traço, graças a Deus", eu assegurei com um leve sorriso no meu rosto. Eu vinha praticando meu antigo charme de menino que tantas vezes me salvara na adolescência. Ou será que, antes eu era um tremendo idiota? "Eu tenho que dizer, estou impressionado com o seu progresso. O fato de que todos os outros que se diziam profissionais neste lugar pareciam ter desistido de você só mostra o quão bem temos nos saído juntos." O homem pode ter sido presunçoso pra caralho, mas ele não estava errado, o estado em que me encontrava quando cheguei não era bom, mas o fato de que eu não tive nenhuma melhora em mais de 2 anos com certeza falava muito sobre o meu estado mental. É claro que o fato de eu ainda não ter melhorado pode dizer mais. Eu não sei se o fato de que eu ter melhorado em esconder minha mente desmoronada significa que eu sou menos louco ou apenas estou evoluindo lentamente para um sociopata. A partir de agora, eu realmente não quero saber. "Agora, há um teste que eu quero tentar com você hoje, eu acho que você sabe qual é." Concordo com a cabeça lentamente. "Para ter certeza de que você está o mais calmo possível, eu vou medir sua frequência cardíaca." Minha boca está um pouco seca. Fizemos isso muitas vezes antes, mas nunca com um monitor de freqüência cardíaca. Eu posso não ser capaz de fingir agora.
"Agora que isso está ligado, você simplesmente precisa se deitar e fechar os olhos e quando eu lhe disser, você pode abri-los e olhar para o meu rosto." Isso vai me foder. Eu sei disso antes mesmo de deitar na cama. Toda vez que eu relaxo próximo de uma outra pessoa e, em seguida, vejo o seu rosto, enxergo uma versão verdadeiramente mutilada e horrível do seu rosto olhando de volta. Seria como enxergá-los depois que passassem um fim de semana no inferno. Ou talvez em Dwight Fuller. Eu fecho meus olhos e retardo a minha respiração. O último ano tem sido principalmente um, exercício de yoga longo precisamente para este momento. Eu sinto meu coração desacelerar. Em algum lugar, um pouco mais longe do que antes, o doutor diz-me para abrir os olhos. Eu abro-os lentamente e olho para o rosto dele. É a mesma forma destruída de antes, mostrando os dentes através de um corte em sua bochecha, o buraco no topo de sua cabeça, que parece mais como um dreno de esgoto. E, claro, os doentios, olhos verdes, dizendo-me e mostrando-me em uma reflexão nebulosa, o quanto eu realmente tenho nojo dele. Eu não vacilo, nem mesmo por um segundo. Mas esta não é a minha primeira vez. Desde o final daquela noite de maio, eu vejo um monstro diferente em todas as pessoas, sempre que eu relaxo um pouco. Eu estou falando metaforicamente, eu sei que elas realmente não se parecem com esses monstros, mas quando você pode sentir o cheiro de carne podre inalando de um ferimento na cabeça ou sentir o calor dos enfermeiros com suas mãos flamejantes...
.. ou tocar os chifres na testa de Jessica.. 
então, fica difícil não se assustar, não importa o quanto você tente antecipar isso. Levei quatro anos para controlar minhas emoções e parece que finalmente funcionou. Nem um pio do monitor. "Excelente! Você realmente não vê mais os rostos?" ele pergunta-me emocionado. E eu respondo com um não, tentando não rir do absurdo de esta pergunta ter sido feita por alguém sem metade do rosto.
"Bem Joel, com base nos dados que temos, e pela sua significante melhora, principalmente depois deste último teste, eu acho que nós podemos cogitar a possibilidade de te liberar muito em breve. Você já pensou sobre o que você vai fazer quando deixar este lugar?" Eu tento fingir um leve desinteresse, mas não tenho pensado em mais nada desde que eu saí do meu estupor induzido pelo medo. "Eu vou ver minha mãe, ela está ficando idosa e não pode vir muito para cá. E vou visitar a sepultura dos meus amigos, e ..." Eu hesitei, eu podia ser melhor em mentir, mas eu sabia que ele iria pegar no meu pé por não mencionar a coisa que mais tem me incomodado por quatro anos inteiros. Ele fica lá, sorriso de satisfação de tudo, esperando eu lhe dizer algo que eu não tenha mencionado ao longo do tempo. "Eu quero voltar para Dwight Fuller" Eu proferi essas palavras de vez, sem a menor cerimônia. Houve um longo silêncio. "Você mencionou isso há mais de um ano atrás. Porque você iria querer voltar para aquele lugar?" "Eu sei que nada daquilo era real" eu minto. "Eu preciso ver isso com os meus próprios olhos e pagar o devido respeito aos amigos que não o fizeram através daquela noite. Preciso arrepender-me" eu digo isso com um nó muito bem trabalhado na garganta. Eu olho para Beverly, com um sorriso tímido enquanto acena com a cabeça em uma silenciosa aprovação. "Hmm. Preciso pensar sobre isso. O que você está propondo poderia ajudá-lo a encontrar um meio de fechar essa história, mas estou um pouco preocupado que você possa ter uma recaída." Ele diz isso, mas eu posso ver um brilho em seus olhos quando ele pensa sobre os artigos nas revistas médicas: 'Paciente que pensavam ser incurável, enfrenta o seu pior medo'. Ele vai pedir para me acompanhar também. Este foi inteiramente demasiado fácil. Ou foi apenas sorte. De qualquer maneira, eu vou sair.
 Jessica me leva de volta ao quarto. "Eu acho que eu vou sair" Faço uma observação em tom casual. Ela faz oum movimento com os cabelos atrás de mim, eu posso ver seus longos cabelos vermelhos voando pela minha cabeça. "Você diz isso há muito tempo. Você realmente acha que é a hora?" ela observa despreocupadamente. "É agora ou nunca. Eu não sei se eu posso ficar mais um ano neste lugar sem realmente começar a ficar louco" Eu rio de volta. Ela recebe esse olhar preocupado no rosto. "Não faça essa piada. Se os médicos ouvirem você falar assim eles vão enfiá-lo no terceiro andar por um ano inteiro. Sua mente não é algo para rir." "Eu estou brincando, eu sei o quão longe do fundo do poço eu fui. Mas a minha liberdade iminente levanta uma questão muito tempo enterrada. Agora que eu não vou ser um paciente, você vai sair comigo?" Eu sei a resposta antes de eu perguntar. "Eu não acho que seria bom para nenhum de nós." Eu me preparei para essa resposta muito antes, mas ainda doía um pouco. Mas o meu ego não foi o motivo para a pergunta e eu coloquei o sentimento de rejeição de lado.
A razão pela qual eu perguntei foi porque eu não queria que ela se voluntariasse para a noite que estava chegando. Fazer coisas embaraçosas é a única maneira de tentar fazê-la ficar para trás. Além disso, ela odeia lugares escuros e assustadores. Ela é rápida em mudar de assunto: "Ouvi dizer que você e o doutor conversaram a respeito de uma viagem." ela diz, um pouco menos entusiasmada em seu discurso. "É mais um teste que uma viagem. Sugeri voltar à Dwight Fuller". Ela para completamente, ficando imóvel e em silencio por longos segundos, até que diz "Você acha isso uma boa idéia?" "Não, mas eu acho necessário."
Sinto muito por cortar a história aqui, mas eu ouço o pessoal fazendo a ronda. Vou tentar escrever mais amanhã. Eu vou acordar cedo para responder aos comentários. Eu estou escrevendo o mais rápido que eu posso, mas eu não sei se a bateria irá durar. Estou pensando em deixar a instituição para terminar a cópia do diário, mas o pensamento me assusta. Espero conseguir escrever outro trecho esta noite, se eu conseguir ficar longe das enfermeiras. Talvez seja apenas paranóia, mas eu sinto que eles podem estar assistindo.

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