terça-feira, 10 de janeiro de 2017

7 Contos para ler no escuro - Parte II: Shyla

Leia o primeiro conto da série AQUI.



Shyla tinha dez anos. Ela vivia em torno da cidade, onde o homem observava sua presa e tinha pensamentos obscuros e primordiais. A família de Shyla era pobre. Ela morava com sua mãe e seu irmão mais novo em um complexo de moradias que havia sido erguido muitos anos antes, para abrigar jovens famílias no início de sua jornada pela vida e idosos que não queriam mais cuidar de jardins. Agora era uma habitação subsidiada pelo governo para famílias de baixa renda, já desmoronando pela falta de cuidado.

Shyla sentou-se nos degraus rachados da porta da frente e tocou algo em seu colo. O estacionamento e a área comum a frente dela se espalharam com os moradores do complexo, em sua grande maioria, jovens negros e latinos, mas a multidão estava salpicada com pessoas mais velhas, decididamente bêbadas. Todos estavam misturados em grandes grupos, discutindo, rindo e bebendo cerveja barata. Às vezes, danças espontâneas explodiam quando de repente um carro com som alto passava pela rua, obrigando pessoas e janelas a vibrarem.
Ninguém notou a pequena Shyla. Ela cantarolou desafinadamente uma canção popular e brincou com a coisa patética e horrível que estava equilibrada em seus joelhos. Shyla era introvertida, e em sua própria maneira de ser, era uma baleia tal como sua mãe. Como regra geral, ela era universalmente ignorada pelas demais crianças do complexo (exceto nas raras e estranhas ocasiões em que faziam piadas sobre sua mãe de mais de quinhentos quilos, ou sobre seu tom escuro de pele). Então não era incomum demorarem a notá-la, mesmo nas atuais circunstâncias. O rosto de Shyla era uma máscara inexpressiva enquanto ela estudava o pequeno objeto gotejante que ela segurava. Ela se virou e manipulou-o nas mãos. Suas mãos e braços estavam untados até cotovelo em marrom, mas não era muito visível contra sua pele escura. A camiseta preta e a calça jeans azul escura que ela usava estavam rígidas com sangue seco. As moscas começavam a encontrá-la.

Rakim, um adolescente que morava na unidade, a duas portas de distância, de sua casa, passava por onde Shyla se sentava nos degraus. Tinha olhos extremamente vermelhos e vidrados, e um sorriso malicioso em seu rosto coberto de acne.

"Yo, Shyla, onde sua mãe está? Aquela chupeta de vulcão. É melhor ela voltar antes que o sol se ponha, ou aquela grande cadela negra vai se perder no escuro". Rakim bufou um riso diante da brincadeira. Notou as moscas zumbindo ao redor da garota e finalmente sentiu o cheiro. "Cara, que putinha fedida você é.. fede igual a sua mãe..". Ele assobiou entredentes em desgosto, e suas marinas brilharam desaprovando o odor amago e carnudo que flutuava da garota para o espesso e quente ar de verão.

Não houve resposta. A menina olhou fixamente para baixo para algo em seu colo. Seu rosto era.. estranho, vazio, sem emoção.

"Você tá chapada? Você é muito jovem, menina. Se você estiver chapada, sua mãe devia meter o chinelo nessa sua bunda." ele entoou de forma séria, completamente inconsciente da ironia em sua declaração.

Ainda sem resposta. Rakim deu quatro grandes passos para frente e parou. Ele tinha finalmente conseguido dar uma boa olhada no que Shyla tinha em suas mãos, e sua mente drogada lutou para processar o que ele viu.

"Mas que merda! Que merda!" Ele engasgou. "Isso é um.. é uma boneca? Que merda é essa?"
"É minha irmãzinha", ela murmurou. Sua voz era grossa e lenta. Shyla levantou os olhos do feto sangrento e rasgado em seu colo e fixou suas pupilas enormemente dilatadas em Rakim. O adolescente congelou e involuntariamente esguichou uma fina corrente de urina pela perna esquerda de seus jeans abaixado. O rosto redondo da garota era uma máscara de insanidade. Uma bochecha se contraiu. De perto, ele podia ver o sangue manchado os braços de Shyla, em torno de sua boca, queixo e pescoço. O cheiro era doentio. Seus olhos rolaram descontroladamente, então focou em seu rosto aterrorizado novamente.

"Ela ainda não está pronta, mas eu a peguei, tirei ela da minha mãe para que eu pudesse.. brincar com ela.." A menina parou, e pareceu considerar o feto em perplexidade por um momento.
Rakim tentou falar, mas só conseguiu respirar debilmente ".. o que..". Isso não poderia estar acontecendo. Este era um maldito filme de terror, do nada, na vida real, agora.

Shyla pegou algo que estava ao lado dela no degrau superior... uma faca. Ela o cravou no torso do feto, até o cabo. Rakim sentiu sua boca se abrir, e um grito agudo ser arrancado de sua garganta. Ele se virou para correr, e sentiu a lâmina bater em suas costas entre as omoplatas.


Conto tirado de: http://bit.ly/2iWRukD

3 comentários:

  1. Se não fosse tão cheio de detalhes inúteis no começo, seria perfeito!
    Onde eu vejo a parte I???

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  2. Opa, valeu por me lembrarem! O link está no começo do post! http://bit.ly/2ic2xcB

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