sexta-feira, 14 de março de 2014

10 estranhas superstições da Idade Média

Na Idade Média, quando a ciência apenas engatinhava, o mundo era, ao mesmo tempo fascinante e assustador. Na ausência do conhecimento adequado, as pessoas não tinham escolha a não ser se voltarem para a superstição, usando sua própria imaginação para explicar os inúmeros fenômenos naturais ​​que as cercavam. O resultado foi um mundo onde tudo parecia mágico, um lugar repleto de anjos e demônios, fadas e duendes, elfos, gnomos e bruxas. Esta lista nos leva para dentro da mente medieval, para os medos e superstições com os quais nossos antepassados precisavam conviver diariamente.


10 – A Donzela da Peste



A Peste Negra foi uma das pragas mais devastadoras a visitar a humanidade. Ela ceifou um terço da população da Europa no século 14. Parte do terror era que ninguém realmente entendia o que estava causando a morte de milhões e, portanto, não se sabia como evitar a infecção. A melhor explicação apresentada pelos acadêmicos da Universidade de Paris foi a de que a peste era causada por uma combinação de terremotos e de um malfadado alinhamento dos planetas. O alinhamento maligno não só causara a peste, mas também levantara tempestades que espalharam gases nocivos pela Terra, gases que haviam sido liberados pelos terremotos.

Mas, as pessoas comuns não podiam compreender ideias tão sofisticadas. Elas preferiam acreditar que a praga era um castigo de Deus, um presságio do fim do mundo. Centenas de lendas surgiram para explicar a propagação da doença. Uma das mais conhecidas é a lenda austríaca da Pest  Jungfrau, ou Donzela da Peste. Essa mulher sobrenatural era descrita como um ser envolto em uma chama azul que voava sobre toda a terra, espalhando o contágio da doença. Na Escandinávia, pessoas juravam tê-la visto sair da boca de uma vítima da peste, também como uma chama azul e voar para longe, a fim de infectar a próxima casa. Na Lituânia, a donzela acenava um lenço vermelho através da porta ou da janela para deixar  a peste entrar. Certa história fala de um homem heroico que deliberadamente esperou a donzela em sua janela com uma espada desembainhada. Ela veio, e logo que estendeu a mão para acenar o lenço mortal, o homem a golpeou,  cortando o membro. O valente herói morreu como resultado de sua ação, mas sua aldeia foi poupada, sendo o lenço preservado como relíquia na igreja local.

Personificar a praga era muito comum nas lendas medievais. Nas pós-medievais Suécia e Noruega, a doença foi retratada como um casal de velhos viajantes, o homem carregava uma pá e a mulher uma vassoura. Se o velho homem com a pá chegasse numa aldeia, ele pouparia algumas pessoas, mas se fosse a anciã com sua vassoura, "nem as mães, nem as crianças de peito, escapariam da morte."


9 – O mar celestial



Devemos essa história ao cronista inglês Gervase de Tilbury, que a incluiu em sua obra Otia Imperiala, escrita em torno de 1212 para seu patrono, o Sacro Imperador Romano Otão IV. Gervase declarou sua crença de que "o mar é mais alto do que a terra ", que "estava acima da nossa habitação. . . dentro ou no ar. " Essa ideia estava baseada em Gênesis 1, que fala de " águas acima do firmamento. "

Fez, pois, Deus o firmamento, e dividiu as águas que estavam debaixo do firmamento das águas que estavam por cima do firmamento; e assim se fez.
Chamou Deus ao firmamento Céu. Houve tarde e houve manhã, dia segundo.
Gênesis 1:7-8

Para provar seus argumentos, Gervase descreve um episódio supostamente ocorrido em uma aldeia inglesa. Em um domingo nublado, quando os moradores estavam saindo da igreja local, eles notaram uma âncora engatada a uma das lápides, no cemitério ao lado da capela. Ela estava presa a uma corda esticada para cima, para dentro dos céus nublados. Para surpresa de todos, a corda começou a se mover, como se alguém estivesse tentando desatar  a âncora da lápide. A âncora não se mexia, e então vozes,  como as de marinheiros gritando, foram ouvidas desde o céu; depois, um homem começou a descer pela corda. Os aldeões o capturaram, momento em que ele morreu, "sufocado pela umidade do nosso ar denso, como se estivesse se afogando no mar." Depois de uma hora, a corda foi cortada por alguém lá de cima e os outros misteriosos marinheiros seguiram viagem.
Outro conto nos fala de um comerciante que acidentalmente deixou cair a faca, enquanto no mar. Na mesma hora, a mesma faca de repente entrou por uma janela aberta de sua casa em Bristol, caindo em cima da mesa, na frente de sua assustada esposa. Como seria de se  esperar, essas lendas são interpretadas pelos teóricos de Óvnis como histórias reais de encontros com civilizações e tecnologias alienígenas.


8 – Os presságios da morte de Carlos Magno




O rei franco Carlos Magno foi coroado imperador do Sacro Império Romano, em 800 d.C. Nos últimos três anos de sua vida, de acordo com o seu biógrafo, Einhard, o Imperador foi atormentado por sinais e presságios sinistros de sua morte. Einhard nos fala de eclipses frequentes do Sol e da Lua e de uma mancha preta no Sol, que durou sete dias. Também houve tremores frequentes no palácio em Aix-la-Chapelle, e no dia da Ascensão, a galeria que ligava o palácio à basílica que Carlos Magno construiu, de repente, desmoronou. Outro dos projetos de Carlos Magno, uma ponte de madeira sobre o Rio Reno, em Mainz, que levou 10 anos para ser construída, foi acidentalmente incendiada e totalmente consumida pelo fogo em apenas três horas.

Durante a sua última campanha saxã contra os dinamarqueses, o próprio Carlos Magno viu uma bola de fogo aparecer e correr pelo céu, quando ele estava saindo do acampamento ao amanhecer. Seu cavalo, de repente deu um mergulho para a frente, jogando o imperador violentamente para o chão. Em qualquer edifício que Carlos Magno se abrigava, estranhos ruídos vindos do telhado eram ouvidos. Na basílica de Aix-la-Chapelle, uma bola dourada que adornava o pináculo, foi atingida por um raio, fazendo-a cair e destruir a  casa do bispo ao lado. 

Todos esses acontecimentos assustadores pareciam não abalar o imperador. No entanto, poucos meses antes de sua morte, as pessoas começaram a perceber que a palavra "Princeps" na legenda inscrita em torno da cornija da basílica (que identificava Carlos como o construtor do edifício)  desbotava dia a dia, até desaparecer completamente. Carlos Magno, morreu em 28 de janeiro de 814, e foi sepultado em sua basílica.

Cornija é um elemento arquitetônico que consiste em uma faixa horizontal que se destaca da parede ou conjunto de molduras salientes que servem de arremate superior para obras de arquitetura.


7 – Magônia



Entusiastas de Óvnis tendem a interpretar a bola de fogo vista por Carlos Magno na história acima, como sendo uma nave alienígena. Avistamentos de objetos misteriosos no céu, certamente não se limitam a nossa época. Por volta de 820 d.C, o arcebispo Agobard, de Lyon, na França, descreve seres que "caíram na Terra", em seu livro De Grandine et Tonitruis ( Sobre o Granizo e o Trovão ), um trabalho que visava desmistificar as superstições populares sobre os fenômenos climáticos. Ele nos diz que as pessoas de seu tempo acreditavam em uma determinada região chamada Magônia,  a partir da qual misteriosos navios vinham  nas nuvens para roubar colheitas.

Esses seres podiam, aparentemente, fechar acordos com os "criadores de tempestades", e os grãos e outras culturas que caíssem nessas tempestades, seriam recolhidas pelos tais "marinheiros do céu" e levados para Magônia. Agobard era cético, chamando tais crenças de "loucura" e as pessoas que acreditavam nelas de "loucas". No entanto, uma multidão de moradores alegou ter capturado quatro dos misteriosos seres, três homens e uma mulher,  que supostamente teriam caído de um dos navios celestes. Eles mantiveram os seres em cadeias por alguns dias, mas a multidão enfurecida ansiava por um linchamento; os prisioneiros foram então levados para Agobard, que, sendo mais dado a razão, os declarou inocentes, deixando-os partir. Hoje, o termo Magônia é popular entre os fãs de Óvnis, sendo uma coleção de avistamentos de Óvnis chamada apropriadamente de:  A Base de Dados Magônia.


6 – Changelings


Na Grã-Bretanha medieval, acreditava-se que as fadas podiam roubar uma criança e substituí-la por outra, um changeling , em seu lugar. Uma história muito interessante é a de um ferreiro, cujo filho, geralmente um rapaz saudável e alegre, caiu de repente em letargia, definhando tão rápido que todos pensavam que ele fosse morrer. Depois do menino estar nessa condição por um longo tempo, um velho aproximou-se do ferreiro para dizer–lhe que o rapaz  poderia ser um changeling.

Para certificar-se, o velho propôs um teste: colocar um pouco de água em cascas de ovos vazias e organizá-las em torno do fogo, à vista do menino. O ferreiro seguiu as instruções na frente do jovem, que, em seguida, sentou-se no seu leito e exclamou: "Eu tenho 800 anos de idade, mas nunca vi nada semelhante!" Esta seria a confirmação de que o garoto era, na verdade, um changeling.  Então, o velho disse ao ferreiro que seu filho verdadeiro  teria sido sequestrado pelas fadas e mantido prisioneiro em uma colina próxima, por  elas frequentada. O ancião também aconselhou o pai a se livrar do changeling, acendendo uma fogueira e jogando o impostor nela.

Assim fez o homem, então, o changeling soltou um grito, saltou através do telhado e desapareceu. Armado com apenas uma Bíblia, o ferreiro resolveu invadir o domínio das fadas para resgatar seu filho, vendo-o entre as fadas, ele exigiu que o rapaz fosse libertado. As fadas não podiam atacá-lo, porque ele estava protegido pela Bíblia, de modo que o deixaram partir com seu filho para fora da colina.

Ao longo  da história, na Grã-Bretanha, as pessoas muitas vezes realizaram testes semelhantes para determinar se um bebê suspeito era um changeling. Um desses testes consistia em colocar um sapato em uma tigela de sopa na frente de um bebê. Se ele risse, isso significava que entendia o trote e era considerado um farsante.  A lenda do changeling permitiu que as pessoas medievais explicassem as  mortes prematuras em crianças, bem como doenças da infância, deformidades físicas e deficiências mentais.


5 – O toque dos reis


Por mais de 500 anos, as pessoas acreditaram que os monarcas, em virtude de seu direito divino de governar, tinham o poder de curar doenças com seu toque. Certa doença em particular, chamada escrófula, uma  inflamação tuberculosa das glândulas linfáticas do pescoço, seria curada imediatamente  quando tocada por um soberano. Esta cura era vista como a validação divina  da nomeação do monarca. Alega-se que o primeiro rei a praticar o toque de cura foi Eduardo, o Confessor, governante da Inglaterra de 1042 a  1066.

A tradição francesa, por outro lado, nos conta que o rei Filipe I iniciou o costume no século 11. Nos tempos medievais, grandes cerimônias eram realizadas para que o rei tocasse centenas de pessoas afligidas com escrófula, ou o "Mal do Rei". Essas pessoas, em seguida, recebiam moedas de ouro especiais chamadas "peças de toque",  que eram consideradas amuletos.


4 – O homem selvagem de Orford


Ralph de Coggeshall, abade de um mosteiro em Essex, nos conta  a história de alguns pescadores de Suffolk, que, em um certo dia de 1161, capturaram um homem selvagem nu em suas redes, perto da aldeia de Orford. O "tritão", como o chamaram, tinha uma longa barba desgrenhada  e um peito muito peludo, mas sua cabeça era quase totalmente careca. A criatura foi levada para o Castelo de Orford, onde Bartolomeu de Glanville era governador. O estranho ser foi jogado na masmorra e torturado para fazê-lo falar. Sem informações, os moradores não conseguiam decidir se a criatura era um peixe ou um homem, tão confortável estava ela em terra como estava no mar. Os aldeãos pensaram que o estranho prisioneiro poderia ser um espírito maligno no corpo de um marinheiro afogado.

O "tritão" não demostrava nenhuma crença em Deus, nem conhecimento algum dos rituais cristãos. Ele comia o que lhe era dado, mas sempre espremia o suco de um  peixe cru sobre a refeição antes de comê-la. Depois de um tempo, seus captores decidiram deixá-lo voltar para o mar,  para que pudesse exercitar-se, mas não antes de cercá-lo com redes. Apesar das precauções, o tritão conseguiu romper as redes e fugir, surpreendendo os espectadores com sua agilidade na água. A criatura foi recapturada, mas escapou novamente depois de dois meses para nunca mais ser vista.


3 – Os caçadores espectrais


Ao longo da Grã-Bretanha medieval e em muitos lugares do continente europeu, as pessoas viviam aterrorizadas por matilhas espectrais que varriam as florestas em pleno inverno, o momento em que o mundo dos vivos e dos mortos colidiam. Esses sinistros cães de caça eram acompanhados por caçadores e guerreiros fantasmas, cavalgando corcéis negros,  liderados por uma figura que, em terras germânicas, era identificado como Odin, o deus dos mortos. Eles eram considerados arautos da morte e de desastres e as pessoas se jogavam com a face para o chão, a fim de evitar vê-los. Qualquer um, infeliz o suficiente para contemplar o espetáculo fantasmagórico, podia ser levado pelos caçadores do além e deixado quilômetros distantes de onde havia sido capturado.

Às vezes,  o grupo invadia casas, roubando comida e bebida. Enquanto as pessoas comuns eram apenas aterrorizadas, as que praticavam magia teriam suas almas levadas para participar da caça, enquanto seus corpos físicos dormiam. Só de ouvir os cães que passavam pela floresta, em meio à escuridão e o uivo dos ventos de inverno, uma pessoa poderia ficar louca.

Na Alemanha, acreditava-se que entre os caçadores espectrais estavam as almas dos bebês não batizados, enquanto que na França, dizia-se que o grupo era liderado pelo rei Herodes, em perseguição do  Santos Inocentes.


2 – Um lugar para o mal viver


A ilha de Drangey, no Atlântico Norte, a cerca de uma hora de viagem de barco do norte da Islândia, é marcada por um penhasco enorme que se ergue a 168 metros acima do nível do mar. Este afloramento é o lar de milhares de aves marinhas. Na Idade Média, a ilha também era considerada o lar de de trolls e de outros seres malignos. Homens que escalavam os penhascos para caçar pássaros e apanhar ovos, muitas vezes caíam para a morte, porque suas cordas, seriam misteriosamente cortadas.

Aterrorizadas, as pessoas já não se aventuraram nas falésias de Drangey, o que se tornou um problema para Gudmundur (ou Gvendur), o santo bispo de Holar. A cidade islandesa  atraía inúmeros mendigos e alimentá-los dependia da caça em Drangey. Então, Gudmundur decidiu exorcizar a ilha. Com vários sacerdotes e um barril de água benta, o bispo começou a abençoar a ilha, usando cordas para escalar os penhascos traiçoeiros. Ele estava quase finalizando seus rituais, quando uma gigantesca mão peluda saiu da face do penhasco e começou a cortar a corda de Gudmundur. Felizmente, a corda tinha sido abençoada com antecedência. Quando a criatura viu que não podia matar o bispo, ele implorou: "Pare de dar sua bênção, bispo Gvendur, até mesmo o mal precisa de um lugar para viver. "

Por isso, o bispo declarou que aquela parte do penhasco deveria ser um lugar para o mal residir e que as pessoas deviam evitar caçar por lá. A lenda conta que o local atrai muitos pássaros, uma vez que é o único lugar na ilha onde as pessoas não caçam. O bispo Gudmundur começou a realizar bênçãos regulares em outros lugares amaldiçoados, mas ele sempre teve o cuidado de deixar de lado "um lugar para o mal viver."


1 – O Martelo das Bruxas


Na lista dos livros mais infames da história, o Malleus Maleficarum ( O Martelo das Bruxas ), deve estar perto do Mein Kampf , de Hitler. Publicado em 1486, ele foi escrito por dois frades alemães, Heinrich Kramer e Jacob Sprenger, para desmascarar os argumentos de que a bruxaria não existe. Também foi criado para servir como um manual para a detecção, julgamento e punição de bruxas. Ele foi responsável pela onda de caça às bruxas que cobriu a Europa com o sangue de milhares de vítimas, a maioria mulheres.

O Malleus nos dá evidências de que algumas superstições estão longe de ser inofensivas. O livro decreta que a bruxaria é uma heresia e que não acreditar na existência dela, também é heresia. Ele afirma que as bruxas são em sua maioria mulheres, que é o desejo feminino que leva as mulheres a formar pactos com o Diabo e a copular com íncubos. As parteiras seriam especialmente escolhidas devido a suas supostas capacidades de evitar a concepção e interromper a gravidez. O livro acusa as bruxas de comer crianças e de oferecer os filhos vivos para o Diabo. Mas a atrocidade real do Malleus e de seus autores reside nos procedimentos elaborados para identificar e exterminar bruxas.

Os acusados ​​deviam ser despojados das roupas para que fossem encontradas  as "marcas do diabo", então, os réus deviam ser mergulhados na água ou queimados, já que as pessoas  sob a proteção do Diabo não podiam ser afogadas ou mortas pelo fogo. Usando o Malleus como um guia, a tortura foi bastante utilizada para extrair confissões ou envolver outras pessoas em toda a histeria da caça às bruxas. Instrumentos de tortura terríveis foram desenvolvidos para esmagar ou deslocar ossos, para mutilar orifícios corporais ou arrancar as unhas. Tenazes em brasa também foram usadas para arrancar pedaços de carne. Os culpados de bruxaria eram geralmente queimados na fogueira. Tudo somado, não há prova mais contundente para os perigos da superstição do que o Malleus Maleficarum .

Fonte: Kid Bentinho

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