Páginas

sábado, 5 de abril de 2014

A terrível experiencia na prisão Stanford

O experimento de aprisionamento da Universidade de Stanford foi um marco no estudo psicológico das reações humanas ao cativeiro, em particular, nas circunstâncias reais da vida na prisão. Foi conduzido em 1971, por um time de pesquisadores liderados por Philip Zimbardo, da Universidade de Stanford. Voluntários faziam os papéis de guardas e prisioneiros, e viviam em uma prisão "simulada". Contudo, o experimento rapidamente ficou fora de controle e foi abortado.



A Seleção

Os participantes foram recrutados através de um anúncio de jornal e receberiam US$ 15,00 por dia para participar de um "experimento simulado de aprisionamento". Dos 70 inscritos, Zimbardo e seu time selecionaram 24, que foram julgados como sendo mais estáveis psicologicamente e possuindo boa saúde.

Estes participantes eram, na sua maioria, brancos, de classe média, do sexo masculino. Foram formados dois grupos de igual número de "prisioneiros" e "guardas".  É interessante notar que o grupo dos prisioneiros, após terminado o experimento, pensava que os "guardas" haviam sido escolhidos devido sua forma física e tamanho, mas na realidade, eles foram escolhidos jogando cara-ou-coroa e não havia diferença substancial de estatura entre os dois grupos.



A Prisão

A prisão, em si, localizava-se no subsolo do Departamento de Psicologia de Stanford, que fora adaptado para esse propósito. Um estudante assistente de pesquisa era o "Diretor" e Zimbardo o "Superintendente". Zimbardo criou uma série de condições específicas na esperança de que os participantes ficassem desorientados, despersonalizados e  sem individualidade.


Os Guardas

Aos guardas eram entregues bastões de madeira e uniformes de estilo militar de cor bege, que foram escolhidos pelos próprios "guardas" em uma loja local. Eles também receberam óculos de sol espelhados para evitar o contato visual (Zimbardo teve essa ideia a partir de um filme). Diferentemente dos prisioneiros, os guardas trabalhariam em turnos e poderiam voltar para suas casas nas horas livres, porém alguns preferiam voluntariar-se para fazer horas-extras sem pagamento.

Os Prisioneiros

Os prisioneiros deveriam vestir apenas roupões ao estilo do oriente-médio, sem roupa de baixo e chinelos de borracha, tais medidas fariam com que eles adotassem posturas corporais estranhas - segundo Zimbardo - visando aumentar o desconforto e a desorientação. Eles receberam números ao invés de nomes. Estes números eram costurados aos seus uniformes e os prisioneiros tinham de usar meias-calças apertadas feitas de nylon em suas cabeças para simular que seus cabelos estivessem raspados. Além disso, eles eram obrigados a utilizar correntes amarradas em seus tornozelos como um "lembrete permanente" de seu aprisionamento e subjugação.


As Instruções

No dia anterior ao aprisionamento, os guardas foram convocados a uma reunião de orientação, mas não receberam nenhuma instrução formal. Apenas a violência física não seria permitida. Lhes foi dito que seria sua responsabilidade o funcionamento da prisão e que para tanto eles poderiam recorrer a qualquer meio que julgassem necessário. Zimbardo fez o seguinte discurso aos guardas durante a reunião: "Vocês podem gerar nos prisioneiros sentimentos de tédio, de medo até certo ponto, transmitir-lhes uma noção de arbitrariedade e de que suas vidas são totalmente controladas por nós, pelo sistema, por vocês e por mim, e não terão privacidade alguma... Nós vamos privá-los de sua individualidade de diversas maneiras. De um modo geral, isso fará com que eles se sintam impotentes. Isto é, nesta situação nós vamos ter todo o poder e eles nenhum.”
Aos participantes que seriam os prisioneiros, apenas foi dito para que eles esperassem em suas casas até serem "convocados" no dia que o experimento começaria. Sem qualquer outro aviso, eles foram "acusados" de roubo armado e presos pela verdadeiro departamento de polícia local de Palo Alto, que cooperou nesta parte do experimento. Os prisioneiros passaram pelo processo de identificação regular da polícia, incluindo a tomada de impressões digitais e fotografias, e foram informados de seus direitos. Depois disso foram levados até a "prisão simulada" onde foram revistados, "higienizados" e receberam suas novas identidades (números).



A Crise

A experiência ficou rapidamente fora de controle. Os prisioneiros sofriam, e aceitavam , tratamentos humilhantes e sádicos por parte dos guardas e, como resultado, começaram a apresentar severos distúrbios emocionais. Após um primeiro dia relativamente sem incidentes, no segundo dia eclodiu uma rebelião. Guardas voluntariaram-se para fazer horas extras e trabalhar em conjunto para resolver o problema, atacando os prisioneiros com extintores de incêndio e sem a supervisão do grupo de pesquisa. Seguidamente, os guardas tentaram dividir os prisioneiros e gerar inimizade entre eles, criando um bloco de celas para "bons" e um bloco de celas para"ruins".
Ao dividirem os prisioneiros desta forma, os guardas pretendiam que eles pensassem que havia "informantes" entre eles. Estas medidas foram altamente eficazes e motins em grande escala cessaram. De acordo com os consultores de Zimbardo, a tática é similar à utilizada, com sucesso, nas prisões americanas reais.



A "contagem" dos prisioneiros, inicialmente instituída para os ajudar a se acostumarem com seus números de identificação, transformaram-se em cenas de humilhação, que duravam horas. Os guardas maltratavam os prisioneiros e impunham-lhes castigos físicos, como por exemplo, exercícios que obrigavam a esforços pesados. Muito rapidamente, a prisão tornou-se um local insalubre e sem condições de higiene e com um ambiente hostil e sinistro. O direito de utilizar o banheiro tornou-se um privilégio que poderia ser , e frequentemente era, negado. Alguns prisioneiros foram obrigados a limpar os banheiros sem qualquer proteção nas mãos. Os colchonetes foram removidos para o bloco de celas dos "bons" e os demais prisioneiros eram obrigados a dormir no concreto, sem roupa alguma. A comida era frequentemente negada, sendo usada como meio de punição. Alguns prisioneiros foram obrigados a despir-se e chegou a haver atos de humilhação sexual.

O envolvimento do pesquisador

Zimbardo descreveu que ele mesmo estava se sentindo cada vez mais envolvido na experiência que dirigiu e na qual foi igualmente participante ativo. No quarto dia, ele e os guardas, ao ouvirem um rumor sobre um plano de fuga, tentaram, alegando necessidade de maior "segurança", transferir o experimento inteiro para um bloco prisional verdadeiro, pertencente ao departamento da polícia local e fora de uso. Felizmente a polícia local não acatou a ideia, e Zimbardo relatou ter-se sentido irritado e revoltado pelo que ele via como "falta de cooperação" das autoridades locais. À medida que o experimento prosseguia, os guardas iam dando mostras de um crescente sadismo, especialmente à noite, quando eles pensavam que as câmeras estavam desligadas.


Os investigadores afirmaram que aproximadamente um terço dos guardas apresentou tendências sádicas "genuínas". Muitos dos guardas ficaram bastante desapontados quando a experiência foi terminada antes do previsto. Um dos pontos que Zimbardo ressaltou como prova de que os participantes haviam internalizado seus papéis é que, ao ser-lhes oferecida a "liberdade condicional" em troca do pagamento dos dias que faltavam para a experiência terminar, a maioria dos "prisioneiros" aceitou o acordo. Eles receberiam apenas pelos dias em que haviam participado. Porém, ao ser-lhes comunicado que a "liberdade condicional" havia sido rejeitada e que se eles fossem embora não receberiam nada, os prisioneiros permaneceram no experimento. Zimbardo alega que eles não tinham quaisquer razões para continuarem participando se estavam dispostos a prescindir do pagamento para abandonarem a prisão.

Um prisioneiro chegou a desenvolver um problema cutâneo de origem psicossomática por todo o corpo, ao descobrir que não poderia deixar o experimento ou não receberia nenhum dinheiro. Zimbardo ignorou alegando que ele apenas estava "fingindo" estar doente para poder escapar. Choro incontrolável e pensamento desorganizado também foram sintomas comuns entre os prisioneiros. Dois deles sofreram traumas tão fortes que tiveram de ser removidos e substituídos.

O horror e a greve

Um dos prisioneiros substitutos, com o número 416, ficou tão horrorizado com o tratamento que os guardas estavam dando que resolveu iniciar uma greve de fome. Ele foi trancado em um compartimento exíguo, que servia como "solitária", durante três horas, enquanto os guardas o obrigaram a segurar as salsichas que tinha recusado comer. Os demais prisioneiros consideravam-no um "causador de problemas". Para explorar esse sentimento, os guardas fizeram uma oferta: os prisioneiros poderiam abrir mão das suas mantas para que o substituto fosse libertado da solitária, ou ele seria mantido lá durante a noite toda. Os prisioneiros escolheram ficar com as suas mantas. Zimbardo interveio e o substituto pôde voltar para sua cela.



O final

Quando Zimbardo resolveu abortar o experimento, foi chamada uma pesquisadora que nada sabia do que havia sido feito para conduzir as entrevistas com os participantes. A pesquisadora em questão estava tendo um "relacionamento" com Zimbardo na época do experimento, e atualmente é casada com ele. Dentre todas as 50 pessoas que visitaram a "prisão", a única pessoa que questionou a ética de tal experimento foi ela. O experimento, que havia sido planejado para durar duas semanas durou apenas seis dias.

Fonte: Kid Bentinho

Um comentário: