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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O relógio que prevê o fim do mundo acaba de ser adiantado

Estamos tão próximos de uma catástrofe quanto na Guerra Fria - entre os responsáveis, estão o aquecimento global, a Inteligência artificial e Donald Trump


Estamos a 2 minutos e meio do Apocalipse. É o que estima o comitê do Boletim de Cientistas Atômicos, responsável por ajustar, anualmente, o Relógio do Juízo Final. Mas atenção: estes 2 minutos e meio não são literais e sim um símbolo de quão próximos estamos de uma catástrofe mundial.

O Relógio surgiu há 70 anos, em 1947, criado por cientistas que participaram do Projeto Manhattam, aquele mesmo, da bomba atômica. Em um mundo ameaçado por uma guerra nuclear, eles criaram um índice: meia noite representava o Fim do Mundo, o Conflito Final. Em 1947, estávamos a 7 minutos da meia noite.


Esse número é atualizado todo ano, de acordo com os esforços mundiais para tornar o mundo um lugar mais ou menos seguro. Em 1953, com URSS e EUA testando bombas de hidrogênio por todos os lados, chegamos ao mais próximo do Fim: 23h58.

De lá para cá, as coisas pareciam melhorar. 1991 foi o ano mais distante da meia noite, e o Relógio marcou 23h43. Mas, desde 2015, voltou ao clima da Guerra Fria, marcando 3 minutos para meia noite. Em 2017, o perigo aumentou: o relógio foi adiantado em 30 segundo. É a primeira vez na história que ele não é alterado em um minuto completo. A 2 minutos e meio da meia noite, estamos no momento global mais tenso desde 1953.

Não existe nada de místico neste relógio: o horário que ele marca é completamente arbitrário. Porém, é decidido por um grupo de mente geniais – 15 dos membros do comitê venceram o Nobel. O grupo analisa a conjuntura mundial e decide o quão vulneráveis estamos a uma catástrofe planetária. Este ano, eles consideraram que o mundo está mais ameaçado que nos últimos anos – por conta de um combo de inação, desinformação e má gestão.

Ameaça nuclear

Hoje em dia, a análise do Boletim não se limita aos armamentos nucleares, mas eles seguem sendo uma ameaça importante à segurança no globo. Em 2017, os cientistas atômicos denunciaram a falta de incentivos à restrição dessas armas e acusaram os Estados Unidos e a Rússia de estimularem uma nova corrida armamentista, por seguirem modernizando sem parar os seus arsenais. A Coreia do Norte também entra como um fator preocupante, tendo completado seu quinto teste nuclear recentemente.

Aquecimento global

Entre ameaças à sociedade global, as mudanças climáticas estão no mesmo patamar da Bomba Atômica para os cientistas do Relógio. E eles são incisivos ao afirmar que as lideranças mundiais não estão fazendo o suficiente para combatê-lo.

Caixa de Pandora da Ciência

Para além dos riscos presentes, a inteligência artificial e a “independência” das máquinas foram tidas pelo grupo de cientistas como potenciais perigos para o futuro da humanidade, caso não haja um esforço mundial para delimitar o quanto essas tecnologias poderão se desenvolver sem a interferência humana. O alerta do time se refere especialmente ao lado “moral” da inteligência artificial, e pede uma reflexão profunda sobre a permissão de dar às máquinas autoridade sobre a vida humana.

Desinformação

Na mesma linha da Universidade de Oxford, que escolheu “pós-verdade” como palavra do ano em 2016, o Comitê do Relógio colocou a desinformação e a repercussão de notícias falsas como potencializadoras de desastres em grande escala. O exemplo citado é revelador: no ano passado, uma notícia falsa atribuiu a um ministro israelense uma ameaça ao Paquistão. O ministro paquistanês acreditou – e lembrou o mundo de que eles também têm armas nucleares. Para deixar clara a tensão de um mundo de pós-verdades, vale acrescentar que a resposta inflamatória do Paquistão não foi feita em pronunciamento oficial, e sim pelo Twitter. E, falando nisso…


Donald Trump

O Boletim dos Cientistas Atômicos não é nada discreto ao declarar que a eleição de Donald Trump tornou o mundo um lugar menos seguro. Trump é ligado a todos os problemas citados anteriormente – sua negação pública do aquecimento global é descrita como um enorme empecilho na luta contra a mudança climática. Sua declarações impulsivas sobre armamentos nucleares, seja ameaçando outros países, seja declarando a necessidade de aumentar o arsenal americano, tornam ainda mais urgente a necessidade de limitar o uso desse tipo de poderio militar. E, por fim, sua política feita via Twitter e apoio à rumores é exemplo claro da Era da Pós-Verdade.

O Comitê fala, com todas as letras, que só mudou o relógio 30 segundos porque Trump acaba de assumir o cargo e ainda não terminou de anunciar sua equipe. O que fica implícito é que eles acham que podemos estar ainda mais perto da meia noite do que o próprio Relógio do Juízo Final já mostra.

Revolução?

O tom de urgência do Anúncio do Relógio de 2017 é proposital: a ideia é chamar lideranças mundiais e cidadãos à ação imediata. O relatório pede medidas rápidas para a limitação dos arsenais nucleares, intervenções (pacíficas) contra a Coreia do Norte e ajuda financeira aos países subdesenvolvidos para a diminuição da emissão de carbono e o investimento em energia limpa. Exige ainda uma retratação imediata de Donald Trump quanto ao aquecimento global e a retomada dos esforços americanos quanto ao Acordo de Paris.

Mas o ritmo inflamatório do texto chega ao ápice no final: “O relógio está correndo, o perigo global se aproxima. Líderes sábios do poder público precisam agir já, guiando a humanidade para longe do abismo. Se não fizerem isso, os cidadãos sábios devem tomar a frente e mostrar o caminho”. Seria liberdade poética ou o Boletim de Cientistas Atômicos está chamando para uma revolução anarquista?


Abaixo, veja todas as vezes em que o chamado Relógio do Fim do Mundo foi alterado:

1947: SETE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
O Relógio aparece na capa do Boletim dos Cientistas Atômicos pela primeira vez.

1949: TRÊS MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
A União Soviética nega, mas o presidente Truman diz ao público americano que os soviéticos testaram seu primeiro dispositivo nuclear - iniciando oficialmente a corrida armamentista.

1953: DEZ MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Depois de muito debate, os EUA decidem produzir a bomba de hidrogênio, uma arma muito mais poderosa do que qualquer bomba atômica.

1960: SETE MINUTOS PARA MEIA-NOITE
Pela primeira vez, os EUA e a União Soviética parecem ansiosos para evitar um confronto direto.

1963: DOZE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Depois de uma década de testes nucleares quase sem parar, os EUA e a União Soviética assinaram o Tratado de Proibição Parcial de Testes, que termina com todos os testes nucleares atmosféricos. O evento sinaliza a consciência entre os soviéticos e os Estados Unidos de que eles precisam trabalhar juntos para evitar a aniquilação nuclear.

1968: SETE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
As guerras regionais estão descontroladas. O envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã se intensifica, a Índia e o Paquistão lutam em 1965, e Israel e seus vizinhos árabes renovam as hostilidades em 1967. A França e a China desenvolvem armas nucleares para se afirmarem como protagonistas globais.

1969: DEZ MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Quase todas as nações do mundo se reúnem para assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O acordo é simples: os estados de armas nucleares prometem ajudar os signatários de armas não-nucleares do tratado a desenvolverem energia nuclear se prometerem renunciar à busca por produção de novas armas nucleares.

1972: DOZE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Os EUA e a União Soviética tentam reduzir a corrida pela superioridade nuclear assinando mais um tratado.

1974: NOVE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Sul da Ásia produz uma bomba, equato a Índia testa seu primeiro dispositivo nuclear. Os EUA e a União Soviética parecem estar modernizando suas forças nucleares, ao invés de reduzi-las.

1980: SETE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
O boletim descreve União Soviética e EUA como "nucleólicos" - bêbados que insistem em dizer que a bebida consumida é "a última", mas que sempre conseguem encontrar uma boa desculpa para mais uma dose.

1981: QUATRO MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
O tempo no Relógio do Juízo Final só é alterado, em média, uma vez a cada três anos. A invasão soviética ao Afeganistão endurece a postura nuclear dos EUA. O presidente Jimmy Carter exige o retorno dos atletas americanos dos Jogos Olímpicos sediados à época em Moscou e considera maneiras pelas quais os EUA poderiam ganhar uma guerra nuclear. O presidente Reagan elimina a conversa sobre o controle de armas e propõe que a melhor maneira de acabar com a Guerra Fria é que os EUA ganhem.

1984: TRÊS MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
As relações entre os EUA e a União Soviética atingem seu ponto mais tenso em décadas e o diálogo entre as duas superpotências praticamente pára. Os EUA parecem ignorar os poucos acordos de controle de armas em vigor, buscando uma capacidade expansiva de mísseis antibalísticos baseada no espaço, levantando preocupações de que uma nova corrida armamentista começará.

1988: SEIS MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Os EUA e a União Soviética assinam o histórico Tratado de Forças Nucleares de Intervalo Intermediário, o primeiro acordo a banir de fato toda uma categoria de armas nucleares.

1990: DEZ MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Um país da Europa Oriental, após outro, se liberta do controle soviético. No final de 1989, o Muro de Berlim cai, terminando simbolicamente a Guerra Fria.

1991: DEZESSETE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Guerra Fria está oficialmente terminada e EUA e Rússia começam a fazer cortes em seus arsenais nucleares.

1995: QUATORZE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Esperanças de uma grande paz pós-Guerra Fria e uma renúncia de armas nucleares desaparecem. Reconhece-se que existem mais de 40.000 armas nucleares em todo o mundo. Há preocupação de que terroristas poderiam explorar instalações nucleares mal protegidas na antiga União Soviética.

1998: NOVE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Índia e Paquistão realizam testes de armas nucleares com apenas três semanas de diferença. A Rússia e os Estados Unidos "continuam a servir de exemplos ao resto do mundo". Juntos, eles ainda mantêm 7.000 ogivas prontas para disparar umas as outras em 15 minutos.

2002: SETE MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
As preocupações com relação a um ataque terrorista nuclear ressaltam uma enorme quantidade de materiais nucleares inseguros - e às vezes inexplicáveis - de armas nucleares. Os EUA expressam o desejo de projetar novas armas nucleares.

2007: CINCO MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
O Mundo é descrito como estando na "beira de uma segunda era nuclear". Os Estados Unidos e a Rússia continuam prontos para realizar um ataque nuclear em questão de minutos, a Coréia do Norte realiza um teste nuclear e muitos na comunidade internacional temem que o Irã planeje adquirira ogivas.

A mudança climática também apresenta um terrível desafio para a humanidade. Os danos aos ecossistemas já estão ocorrendo; Inundações, tempestades destrutivas, aumento da seca e derretimento do gelo polar estão causando perda de vidas e propriedades.

2010: SEIS MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Crença de que a civilização está se aproximando de ser livre de armas nucleares aumenta o tempo antes do fim do mundo. As negociações entre Washington e Moscou para um acordo de seguimento ao Tratado de Redução de Armas Nucleares estão quase concluídas e já estão planejadas mais negociações para novas reduções no arsenal nuclear dos EUA e da Rússia.

2012: CINCO MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Há uma grande dificuldade em livrar o mundo das armas nucleares e aproveitar a energia nuclear. O potencial para o uso de armas nucleares em conflitos regionais no Oriente Médio, Nordeste e Sul da Ásia é descrito como alarmante.

Temos dificuldade em lidar com a perturbação climática causada pelo aquecimento global.

 2015: TRÊS MINUTOS PARA A MEIA-NOITE
Alterações climáticas e novos esforços para modernizar os arsenais de armas nucleares. A preocupação com o aumento do nível do mar provocou uma mudança radical no tempo do Relógio do Fim do Mundo, empurrando-o dois minutos mais perto do desastre. A última vez que esteve na marcaaos 23:57 foi em 1984, quando as tensões entre os EUA e a União Soviética estavam no máximo.

2017: DOIS MINUTOS E MEIO PARA A MEIA-NOITE
O surgimento do nacionalismo estridente em todo o mundo, os comentários do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as armas nucleares, a ameaça de uma renovada corrida armamentista entre os EUA e a Rússia, uma paisagem de segurança global cada vez mais escurecida, E um crescente desprezo pelos conhecimentos científicos fizeram com que o relógio fosse adiantado 30 segundos.

Fontes de pesquisa:
Superinteressante: Relógio que prevê o fim do mundo acaba de ser adiantado

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