terça-feira, 6 de agosto de 2013

Conto - PENPAL 1: Footsteps

Isso vai ser meio longo, me desculpe por isso. Eu nunca tive que contar essa historia com detalhes o suficientes para explicá-la direito, mas é verdade, e aconteceu comigo quando eu tinha uns 6 anos.

Em um quarto silencioso se você pressionar sua orelha contra o travesseiro, você consegue ouvir seu coração batendo. Quando era uma criança, o som abafado e rítmico parecia suaves passos no carpete, e quando era uma criança, quase toda noite - quando estava quase dormindo - eu ouvia esses passos e recobrava a consciência aterrorizado.

Por toda minha infância vivi com minha mãe em um bairro muito bom, que estava em uma fase transitória - pessoas menos abastadas estavam gradualmente se mudando, e minha mãe e eu eramos duas dessas pessoas. Nós vivíamos naquele tipo de casa que você geralmente vê sendo transportadas em duas peças pelas interestaduais, mas minha mãe cuidava bem dela. O bairro era cercado por muitas árvores onde eu passava o dia inteiro brincando, mas à noite - como geralmente são as coisas para uma criança - elas eram muito sinistras. Isso somado com o fato de que nós tínhamos um porão gigante que enchia minha mente com monstros imaginários e cenários inescapáveis. Isso dominava meus pensamentos quando eu era acordado pelo passos.

Eu disse à minha mãe sobre os passos, e ela me disse que eu estava somente imaginando coisas; Enchi tanto o saco dela com isso que um dia ela me deu remédio para os ouvidos apenas para ver se eu me acalmava, até eu achei que fosse dar certo. É claro que não deu. Tirando todo o meu medo de noite e os passos, as únicas coisas estranhas de verdade que aconteciam comigo era quando eu acordava na cama de baixo do beliche, mesmo me lembrando de ter dormido em cima; não era algo realmente estranho, já que eu provavelmente levantava da cama pra mijar e me deitava na cama errada (eu era uma criança, então isso não importava). Isso acontecia uma ou duas vezes por semana, mas acordar na cama de baixo não era tão assustador. Mas um dia não foi lá que acordei.



Eu havia ouvido os passos, mas eu estava com muito sono para me levantar por causa deles. E quando acordei, não foi por causa do som ou qualquer outro pesadelo, foi porque estava frio. Muito frio. Abri meus olhos e vi estrelas. Eu estava na mata. Me sentei imediatamente e tentei e entender o que estava acontecendo. Achei que estivesse sonhando, mas aquilo não parecia certo, e não era certo que eu estivesse na mata. Na minha frente tinha uma boia vazia, daquelas que tem o formato de um tubarão. Aquilo só fazia tudo ficar mais surreal, mas depois de um tempo eu percebi que não ia acordar, porque eu não estava dormindo. Me levantei para me orientar, mas não reconheci as árvores. Eu brincava na mata o dia inteiro, então as conhecia bem, mas estas não eram as mesmas árvores, então como eu iria sair daqui? Dei um passo e senti uma dor aguda no meu pé, que me fez cair onde estava. Havia pisado em um espinho. Pela luz da Lua consegui ver que eu estava cercado deles. Olhei para meu outro pé e estava bem, assim como todo o resto de mim. Eu não estava arranhado, e nem ao menos sujo. Chorei um pouco, e me levantei de novo.

Eu não sabia pra onde ir, então peguei uma direção aleatória. Eu resisti à vontade de gritar, porque não sabia se queria ser encontrado por quem ou pelo o quê poderia estar por aí.

Andei pelo que pareceram ser horas.

Tentei andar em uma linha reta, e tentava voltar para a rota inicial sempre que tinha que desviar, mas eu era uma criança, e eu estava com medo. Não havia nenhum uivo ou qualquer som do tipo, mas ouvi algo que me assustou. Parecia um bebê chorando. Hoje em dia acho que era um gato, mas na hora entrei em pânico. Eu saí correndo desviando dos arbustos e árvores caídas. E eu estava prestando muito atenção aonde pisava, pois meu pé estava bem ruim. Prestei atenção demais aonde estava pisando, e não percebi aonde estava indo porque pouco depois de ouvir o choro eu vi algo que me desesperou mais do que tudo. A bóia em formato de tubarão.

Eu estava a uns 3 metros de onde tinha acordado.

Não foi mágica ou algo sobrenatural. Eu estava perdido. Até aquele momento eu estava mais preocupado em sair da floresta em pensar em como eu cheguei nela, mas pensar nisso me deixou bem desesperado. Eu não tinha nem certeza de que aquela era a minha floresta; eu só estava rezando para que fosse. Eu corri em um grande círculo ou será que eu só me virei e corri de volta? Como eu iria sair daqui? Na época eu achava que a Estrela do Norte era a estrela mais brilhante, então eu só procurei a que brilhava mais, e comecei a segui-la.

Eventualmente as coisas começaram a ficar mais familiares, e quando eu encontrei "a fossa" (uma vala suja em que eu e meus amigos gostávamos de brincar de guerra) eu sabia que havia conseguido. Naquele momento eu estava andando bem devagar porque meu pé doía muito, mas eu estava tão feliz de estar perto de casa que até comecei a correr. Quando eu finalmente vi meu bairro e o telhado da minha casa eu comecei a correr mais rápido. Só queria ir pra casa. Eu já havia decidido não dizer nada porque eu não fazia a menor ideia do que poderia dizer.  Eu podia entrar em casa de algum jeito, me limpar e voltar para a cama. Meu coração bateu mais rápido quando virei a esquina e vi minha casa por inteiro.

Todas as luzes da casa estavam acesas.

Eu sabia que minha mãe estava acordada, e sabia que teria que explicar (ou pelo menos tentar) onde eu estava, e não conseguia saber nem por onde começaria. Minha corrida foi ficando mais lenta, e comecei a andar bem devagar. Eu vi sua silhueta pela janela, e minha preocupação em explicar as coisas para ela sumiu. Dei mais uns passos, coloquei minha mão na maçaneta e a virei. Logo antes que eu pudesse empurrar a porta para abri-la, dois braços me seguraram e me puxaram de volta. Eu gritei o mais alto que pude: "MÃE! ME AJUDA! POR FAVOR! MÃE!" A sensação de estar tão perto de ser salvo e ser fisicamente impedido me deu uma sensação de desespero que até hoje não consigo descrever.

A porta de casa abriu, e uma luz de esperança apareceu. Mas não era minha mãe.

Era um homem, e ele era gigante. Tentei chutar a barriga da pessoa que estava me segurando, enquanto tentava fugir da pessoa que havia saído da minha casa. Eu estava com medo, mas estava furioso. "ME DEIXE IR EMBORA! CADÊ ELA? CADÊ A MINHA MÃE? O QUE VOCÊS FIZERAM COM ELA?" Quando finalmente fiquei sem ar de tanto gritar, percebi um som que não havia ouvido enquanto berrava.

"Querido, por favor, se acalme. Você está a salvo." Parecia minha mãe.

Os braços me soltaram, e notei a roupa do homem enorme da minha porta. Era um policial. Eu me virei em direção à voz de quem me segurava, e era minha mãe mesmo. Tudo estava bem. Comecei a chorar, e nós três entramos em casa.

"Estou tão feliz que você está em casa. Eu achei que nunca fosse te ver de novo." Nesse momento ela também estava chorando.

"Me desculpe, eu não sei o que aconteceu. Eu só queria voltar pra casa. Me desculpe,"

"Tudo bem, só não faça isso de novo. Não sei se  eu aguentaria..."

Dei uma pequena risada. "Me desculpe por chutar você, mas por que me segurou desse jeito?"

"Eu estava com medo de você fugir de novo."

Eu estava confuso. "Como assim?"

"Encontramos seu bilhete no travesseiro" Ela disse enquanto ela apontava o pedaço de papel na mão do policial do outro lado da mesa.

Peguei o bilhete e comecei a ler. Era uma carta sobre "fugir de casa". Dizia que eu estava infeliz e nunca mais gostaria de ver ela ou meus amigos. O policial e minha mãe trocaram algumas palavras enquanto eu olhava para o bilhete. Não me lembrava de ter escrito um bilhete. Não me lembrava de nada sobre isso. Mas mesmo se as vezes eu fosse no banheiro no meio da noite e não me lembrasse, e mesmo que eu pudesse ir para a floresta sozinho, e mesmo que tudo isso pudesse ser verdade, a única coisa que eu sabia no momento era...

"Não é assim que se escreve meu nome...eu não escrevi isso."

Fonte: Boa Noite a Todos

Leia as partes posteriores: Balloons (Parte 2), Boxes (Parte 3) Maps (Parte 4), Screens (Parte 5) e Friends (Parte 6)

Um comentário: