quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Creepypasta - A casa sem fim



Deixe-me começar avisando que Peter Terry era viciado em heroína.

Éramos amigos na faculdade, e continuamos depois de eu me formar. Perceba que eu disse "eu". Ele saiu após 2 anos mal tentando. Depois que me mudei da república para um pequeno apartamento, não vi Peter com frequência. Nós conversamos online desde aquela época (AIM era foda em anos pré-Facebook). Houve um período em que ele não ficou online por 5 semanas seguidas. Eu não me preocupei. Ele era viciado em drogas e um notório cabeça-de-vento, então eu presumi que ele apenas cansou da internet. Então em uma noite eu o vi online. Antes que eu pudesse começar uma conversa, ele me mandou uma mensagem:

"David, cara, precisamos conversar."

Foi aí que ele me disse sobre a Casa Sem Fim. Ela ganhou esse nome porque ninguém nunca conseguiu chegar ao seu final. As regras são simples e clichês: chegue à última sala da construção e ganhe $500. São nove salas ao todo. A casa se localiza fora da cidade, mais ou menos 6km da minha casa. Aparentemente Peter tentou e falhou. Ele era viciado em heroína e em sabe lá mais o que então imaginei que as drogas já tinham levado seu melhor e ele se mijou todo com um fantasma de papel, ou algo do tipo. Ele me disse que era demais para qualquer um. Não era natural.


Eu não acreditei nele. Eu disse a ele que iria checar por mim mesmo na noite seguinte, que não importava o quanto ele estava tentando me convencer do contrário, pois $500 parecia bom demais para ser verdade. Eu precisava ir. Na noite seguinte, fui até lá.

Quando eu cheguei, imediatamente notei algo estranho sobre a casa. Você já viu ou leu algo que não deveria dar medo, mas por algum motivo te arrepiou a espinha? Eu andei em direção à casa e a sensação de desconforto só aumentou quando abri a porta da frente.

Meu coração desacelerou e eu dei um pequeno suspiro de alívio quando entrei. A entrada parecia um saguão de hotel decorada para o Halloween. Um bilhete foi colocado no lugar onde deveria ter um funcionário. Ele dizia, "Sala 1 por aqui. Mais 8 além desse. Chegue até o final e você vence!". Soltei uma risada e fui para a primeira porta.

A primeira área era quase risível. A decoração lembrava um Halloween de um mercado, com uns fantasminhas de lençol de merda e zumbis robotizados que davam um rugido mal feito assim que você passa. No final havia uma saída; era a única porta além da que eu entrei. Afastei as teias de aranha falsas e fui para a segunda sala.

Fui cumprimentado com uma névoa assim que abri a porta para a sala 2. Nesse quarto definitivamente o orçamento foi mais alto em termos de tecnologia. Não havia apenas uma máquina de névoa, mas um morcego se dependurou do teto e voou em círculos. Eles pareciam ter uma trilha sonora de Halloween que poderia ser encontrada em uma loja de $1,99 em algum lugar do quarto. Eu não vi o aparelho de som, mas acredito que eles tenham usado um sistema de PA. Eu desviei de alguns ratos de brinquedo que corriam por aí e andei com o peito inflado para a próxima área.

Coloquei a mão na maçaneta e meu coração parou. Eu não queria abrir aquela porta. Um sentimento de terror bateu tão forte em mim que eu mal podia pensar. A lógica voltou a mim após alguns segundos, e eu entrei na próxima sala.

Sala 3 foi onde as coisas começaram a mudar.

À primeira vista, parecia uma sala normal. Havia uma cadeira no meio do chão de madeira. Uma pequena lâmpada no canto fazia um péssimo trabalho iluminando a área, e projetava algumas sombras pelo chaõ e paredes. Esse era o problema. Sombras. No plural. Além da sombra da cadeira, havia outras. Eu mal entrei na sala e já estava aterrorizado. Foi nesse momento que percebi que algo não estava certo. Eu não estava nem pensando quando automaticamente tentei abrir a porta de onde eu vim. Estava trancada pelo outro lado.

Isso me desconsertou. Alguém estava fechando as portas conforme eu andava? Não tinha como. Eu teria o ouvido. Uma tranca que fechava automaticamente? Talvez. Mas eu estava com muito medo para pensar com clareza. Me virei novamente para a sala e a sombras se foram. A da cadeira continuava, mas as outras se foram. Comecei a andar devagar. Eu tive algumas alucinações quando criança, então presumi que as sombras eram fruto de minha imaginação. Comecei a me sentir melhor conforme passava pela metade da sala. Olhei para baixo enquanto andava e foi aí que eu vi.

Ou não vi. Minha sombra não estava lá. Eu não tive tempo para gritar. Corri o mais rápido que pude para a outra porta e me joguei sem pensar na próxima sala.

A sala número 4 provavelmente era a mais perturbadora. Quando fechei a porta, parece que toda a luz foi sugada pela sala anterior. Fiquei parado lá, totalmente encoberto pela escuridão, e não podia me mover. Eu não tenho medo de escuro, nem nunca tive, mas eu estava absolutamente aterrorizado. Toda a minha visão havia me deixado. Coloquei minha mão em frente ao meu rosto e se eu não soubesse que tinha feito isso, nunca seria capaz de dizer. Escuridão não explica isso. Eu não conseguia ouvir nada. Era um silêncio mortal. Quando você está em uma sala à prova de som, você ainda consegue se ouvir respirando. Você consegue ouvir você mesmo estando vivo.

Eu não conseguia. Eu comecei a tremer após alguns momentos, minha pulsação acelerada era a única coisa que eu conseguia sentir. Não conseguia ver a porta. Eu não tinha certeza nem se havia alguma, nessa altura do campeonato. O silêncio foi quebrado por um zumbido.

Eu senti algo atrás de mim. Eu me virei rapidamente, mas eu mal conseguia ver meu nariz. Eu sabia que aquilo estava lá, mesmo assim. Apesar da escuridão, eu sabia que algo estava lá. O zumbido começou a ficar mais alto, mais perto. Parecia estar em volta de mim, mas eu sabia que sabe lá o que estivesse causando o zumbido estava na minha frente, uma polegada de distância. Eu dei um passo para trás;nunca senti esse tipo de medo. Eu não posso descrever medo de verdade. Eu não estava com medo de morrer; eu estava com medo da alternativa. Eu estava com medo do que essa coisa guardava para mim. Então as luzes piscaram por um segundo e eu vi.

Nada. Eu não vi nada e eu sei que não vi nada ali. A sala estava de novo mergulhada na escuridão e agora o zumbido era um guincho estridente. Eu gritei em protesto; não aguentaria ouvir esse som por mais um minuto. Corri para trás, fugindo do barulho e bati na maçaneta da porta. Eu me virei e caí na sala 5.

Antes que eu descreva a sala 5, você precisa entender uma coisa, eu não sou viciado em drogas. Eu não tenho histórico de usar drogas nem nenhum tipo de psicose além das minhas alucinações quando criança, que eu mencionei mais cedo, e essas foram apenas quando eu estava muito cansado ou acordando. Eu entrei na Casa Sem Fim com a cabeça limpa.

Depois de cair da sala anterior, minha visão da sala 5 foi de costas, olhando para o teto. O que eu vi não me deu medo, apenas me surpreendeu. Árvores haviam crescido nessa sala e elevavam-se acima de minha cabeça. O teto nessa sala era mais alto do que os outros, o que me fez imaginar que eu estava no centro da casa. Eu levantei do chão, limpei a poeira e olhei em volta. Era com certeza a maior sala de todas. Eu não conseguia nem ver a porta de onde eu estava; varias plantas e árvores devem ter bloqueado minha visão da saída.


Nesse ponto eu imaginava que as salas se tornavam cada vez mais assustadoras, mas essa era um paraíso se comparada com a última sala. Eu também presumi que seja lá o que estivesse na sala 4, ficou por lá. Eu estava incrivelmente errado.

Quando comecei a adentrar na sala, eu comecei a ouvir o que eu ouviria se estivesse em uma floresta; sons de insetos e, as vezes, de pássaros voando pareciam ser minha única companhia nessa sala. Era isso que mais me incomodava. Eu ouvia os insetos e outros animais, mas não vi nenhum deles. Comecei a pensar em quão grande essa casa era. Olhando do lado de fora quando cheguei aqui, parecia uma casa normal. Com certeza eu estava na maior parte, mas havia quase uma floresta inteira aqui. As copas das árvores cobriram minha vista do teto, mas eu assumi que ele ainda estava ali, não importando quão alto era. Eu não conseguia ver nenhuma parede, por sinal. A única coisa que me fazia ver que eu ainda estava em casa era o chão, que combinava com as outras salas: um piso de madeira escuro.

Continuei andando, rezando para que a próxima árvore que eu passasse relevasse a próxima porta. Após um tempo de caminhada, senti um mosquito passando pelo meu braço. O sacodi e continuei andando. Um segundo depois, senti cerca de 10 mais pousarem em minha pele em locais diferentes. Eu os sentia andar pra cima e para baixo em meus braços e pernas, e alguns passavam pelo meu rosto. Eu me debati para me livrar deles, mas eles continuavam lá. Eu olhei pra baixo e deixei sair um grito abafado - mais um gemido, para ser honesto. Eu não vi nenhum inseto. Não havia nenhum inseto em mim, mas eu conseguia sentir eles rastejando. Eu ouvi eles voarem perto do meu rosto e picarem minha pele, mas não consegui ver nenhum. Me joguei no chão e comecei a rolar desesperadamente. Eu estava desesperado. Eu sempre odiei insetos, principalmente os que eu não conseguia ver ou tocar. Mas esses insetos conseguiam me tocar e eles estavam em todos os lugares.

Comecei a me rastejar. Eu não fazia ideia de onde estava indo; a entrada não estava em lugar nenhum em minha linha de visão e eu ainda não havia achado a saída. Então eu apenas rastejei, minha pele coçando com a presença desses insetos fantasmas. Após o que me pareceu horas, eu achei a porta. Eu me apoiei na árvore mais porta e levantei, insanamente batendo em meus braços e pernas, sem resultado. Eu tentei correr, mas não consegui; meu corpo estava exausto de me rastejar e tentar lidar com sei lá o que estava em mim. Dei mais uns passos em direção à porta, me apoiando em todas as árvores no caminho.

Eu estava apenas a alguns metros quando eu ouvi. O zumbido de antes. Estava vindo da próxima sala, e estava mais profundo. Eu podia senti-lo quase dentro de meu corpo, como quando você fica perto de um amplificador em um show. A sensação dos insetos em mim foi passando conforme o zumbido ficava mais alto. Quando botei minhas mãos na maçaneta os insetos já haviam ido embora completamente, mas eu não conseguia girá-la. Eu sabia que eu retornasse, os insetos voltariam, e não havia como voltar para a sala 4. Apenas fiquei ali parado, com a cabeça encostada na porta com um 6 marcado, e as mãos tremendo na maçaneta. O zumbido estava tão alto que eu não conseguia ouvir nem meus pensamentos. Eu não podia fazer nada além de seguir. Sala 6 era a próxima, e sala 6 era o inferno.

Fechei a porta atrás de mim, meus olhos fechados e meus ouvidos zumbindo. O zumbido estava me envolvendo. Assim que a porta fechou, o som se foi. Eu abri meus olhos e me surpreendi quando a porta que eu havia fechado, desapareceu. Era apenar a parede agora. Eu olhem em volta em estado de choque. A sala era igual à sala 3 - mesma cadeira e lâmpada - mas com o número certo de sombras desta vez. Na verdade, a única diferença é que não havia porta de saída e a porta que eu vim desapareceu. Como eu disse antes, eu nunca tive nenhum tipo de instabilidade mental, mas nesse momento eu estou no que sei ser insanidade. Eu não gritei. Não fiz um som.

Primeiro eu arranhei levemente. A parede estava lá, mas eu sabia que a porta estava em algum lugar. Eu apenas sabia que estava. Eu arranhei aonde a maçaneta ficava. Eu comecei a enfiar as unhas na parede freneticamente com as duas mãos, minhas unhas cortadas até a pele contra a madeira. Eu caí sobre meus joelhos, o único som na sala eram meus incessantes arranhões na parede. Eu sabia que estava lá. A porta estava lá, eu sabia que estava. Se eu ao menos pudesse passar por essa parede -

"Você está bem?"

Saltei do chão e me girei rapidamente. Me encostei na parede atrás de mim e vi o que falou comigo; até hoje me arrependo de ter virado.

Era uma garotinha. Ela vestia um vestido leve a branco que ia até seus tornozelos. Ela tinha um longo cabelo loiro que ia até o meio de suas costas, pele branca e olhos azuis. Foi a coisa mais horrorizante que já vi em minha vida, e eu sei que nada na minha vida vai me dar mais medo do que eu vi nela. Enquanto eu olhava para a garota, eu via outra coisa. Onde ela estava eu vi o que parecia o corpo de um homem, maior do que o normal e coberto de pelos. Ele estava nu da cabeça aos pés, mas sua cabeça não era humana e seus pés eram cascos. Não era o demônio, mas no momento poderia muito bem ter sido. A coisa tinha a cabeça de um carneiro e o focinho de um lobo.



Era horrível e estava no mesmo lugar que a garotinha na minha frente. Eles eram a mesma coisa. Eu não consigo descrever direito, mas eu os via ao mesmo tempo. Eles ocupavam o mesmo lugar na sala, mas era como se eu estivesse vendo em duas dimensões diferentes. Quando eu via a garota eu via a coisa, e quando eu via a coisa eu via a garota. Eu não conseguia falar. Mal conseguia ver. Minha mente estava se revoltando contra o que eu estava tentando processar. Eu já senti medo antes em minha vida e eu nunca senti tanto medo como quando fiquei preso na sala 4, mas isso foi antes da sala 6. Eu estava preso aqui com aquilo. E aquilo falou novamente.

"David, você deveria ter ouvido."

Quando a coisa fala, eu ouço as palavras da garotinha, mas a outra forma fala em minha mente em um tom que eu não consigo descrever. Não havia nenhum outro som. A voz continuava repetindo a frase mais e mais em minha cabeça, e eu concordei. Eu não sei o que fazer. Eu estava mergulhando na loucura, mas ainda assim não conseguia tirar os olhos do que estava em minha frente. Eu caí no chão. Achei que tivesse desmaiado, mas a sala não me permitiria isso. Eu apenas queria que isso acabasse. Eu estava de lado, meus olhos bem abertos e a coisa olhando para mim. Correndo pelo chão na minha frente, um dos ratinhos de brinquedo da sala número 2.

A casa estava brincando comigo. Mas, por alguma razão, ver aquele rato fez minha mente voltar de seja lá aonde estava, e eu olhei em volta. Eu iria sair dali. Eu estava determinado a sair vivo daquela casa e nunca mais sequer pensar sobre esse lugar. Eu sabia que essa sala era o inferno e eu não estava pronto para torná-la minha residência. Primeiro, foram apenas meus olhos que se moveram. Procurei nas paredes por qualquer tipo de abertura. A sala não era tão grande, então não demorou muito para que eu procurasse por ela toda. O demônio continuava me provocando, a voz cada vez mais alta e a coisa se mantinha parada no mesmo lugar. Coloquei minha mão no chão e me levantei, e comecei a examinar a parede atrás de mim.


Então eu vi algo que não podia acreditar. A coisa estava agora bem em minhas costas, sussurrando em minha mente o que eu não deveria ter feito. Senti sua respiração em minha nuca, mas me recusei a virar. Um retângulo estava riscado na madeira, com um pequeno entalhe no meio dele. Bem em frente aos meus olhos eu vi o número 7 que eu sem querer escavei na parede. Eu sabia o que era: sala 7 estava atrás da parede aonde sala 5 estava momentos atrás.

Não sei como fiz isso - talvez fosse só meu estado mental no momento - mas eu criei a porta. Eu sei que criei. Em minha loucura, eu arranhei a parede formando o que eu mais precisava: uma saída para a próxima sala. Sala 7 estava perto. Eu sabia que o demônio estava atrás de mim, mas por algum motivo ele não conseguia me tocar. Fechei meus olhos e coloquei ambas as mãos no grande 7 na minha frente. Eu empurrei. Eu empurrei o mais forte que pude. O demônio agora estava gritando em meus ouvidos. Ele me dizia que eu nunca sairia. Me dizia que esse era o fim, mas que eu não iria morrer; eu iria viver com ele na sala 6. Não, eu não ia. Eu empurrei e gritei com todas as minhas forças. Eu sabia que uma hora ou outra eu iria empurrar a parede.

Fechei meus olhos e gritei, e o demônio havia ido embora. Fui deixado no silêncio. Me virei de vagar e fui recebido pela sala do jeito que estava quando eu entrei: apenas uma cadeira e uma lâmpada. Não pude acreditar, mas não tive tempo para pensar. Me virei para o 7 e pulei para trás. O que vi foi uma porta. Não a que eu havia arranhado, mas uma porta normal com grande 7 nela. Meu corpo inteiro estava tremendo. Demorei um tempo para girar a maçaneta. Apenas fiquei por ali por uns momentos, encarando a porta. Eu não podia ficar na sala 6. Devo ter ficado mais ou menos 1h, apenas encarando o 7. Finalmente, respirando fundo, girei a maçaneta e abri a porta para a sala 7.

Cambaleei pela porta mentalmente exausto e fisicamente fraco. A porta atrás de mim fechou e eu percebi aonde estava. Eu estava lá fora. Não lá fora como a sala 5, realmente fora. Meus olhos ardiam. Eu quis chorar. Caí de joelhos e tentei, mas não consegui. Finalmente estava fora daquele inferno. Não liguei nem para o prêmio que prometeram. Olhei para trás e vi que a porta que passei era a da entrada. Andei até meu carro e dirigi para casa, pensando em como um banho cairia bem agora.

Assim que cheguei em minha casa, me senti desconfortável. A alegria de deixar a Casa Sem Fim havia passado, e um medo crescia em meu estômago. Deixei isso de lado, como apenas um resíduo daquela casa e andei até a porta da frente. Entrei e imediatamente fui ao meu quarto. Em minha cama estava emu gato, Baskerville. Ele foi a primeira coisa viva que vi a noite toda e me aproximei para fazer carinho. Ele ficou arisco e arranhou minha mão. "Tanto faz, ele está meio velho", pensei. Pulei no chuveiro e me preparei pare o que eu esperava ser uma noite sem dormir.

Após meu banho, fui para a cozinha fazer algo parar a comer. Desci as escadas e fui para a sala; o que eu vi queimaria em minha mente para sempre. Meus pais estavam deitados no chão, nus e cobertos em sangue. Eles estavam mutilados ao ponto de estarem quase impossíveis de identificar. Seus membros foram removidos e colocados do lado de seus corpos, e suas cabeças estavam em seus peitos, me encarando. A pior parte eram suas expressões. Eles estavam sorrindo como se estivessem felizes em me ver. Eu vomitei e solucei ali mesmo. Eu não sabia o que havia acontecido; eles não moravam comigo atualmente. Eu estava na merda, Então eu vi: uma porta que nunca esteve lá. Uma porta com um grande 8 desenhado em sangue.

Eu ainda estava na casa. Eu estava na sala de casa mas eu estava na sala 7. Os rostos de meus pais sorriram mais quando eu percebi isso. Não eram meus pais; não podiam ser, mas se pareciam muito com eles. A porta com o 8 marcado estava do outro lado da sala, atrás dos corpos mutilados na minha frente. Eu sabia que teria que seguir em frente, mas nesse momento eu desisti. Os rostos sorridentes dilaceravam minha mente; eles me encaravam aonde eu estivesse. Vomitei de novo e quase entrei em colapso. Então o zumbido voltou. Estava mais alto do que nunca, por toda a casa e fazendo as paredes tremerem. O zumbido me fez andar.

Comecei a andar devagar, caminhando mais perto da porta e dos corpos. Eu mal conseguia me manter de pé, quem dirá andar, e quanto mais perto chegava de meus pais, mais perto chegava do suicídio. As paredes agora tremiam tanto que parecia que iriam cair, mas os rostos ainda sorriam para mim. Conforme ia chegando perto, os olhos me seguiam. Eu estava agora entre 2 corpos, muito perto da porta. As mãos desmembradas se rastejaram para minha direção, enquanto os rostos continuavam e me encarar. Um novo terror me consumiu e comecei a andar mais rápido. Eles começaram a abrir suas bocas e as mãos estavam a centímetros de meus pés. Em um ato desesperado, eu me joguei na porta, a abri e a bati atrás de mim. Sala 8.

Eu estava acabado. Após o que eu acabei de experimentar, eu sabia que não haveria mais nada nessa porra de casa que eu não poderia passar. Não haveria nada além do fogo do inferno que eu não estivesse preparado. Infelizmente, eu subestimei as habilidades da Casa sem Fim. Infelizmente, as coisas se tornaram mais perturbadoras, mais terríveis e mais inexplicáveis na sala 8.

Eu ainda não consigo acreditar no que vi na sala 8. Novamente, a sala era uma cópia das salas 4 e 6; mas sentado na cadeira que costuma estar vazia, tinha um homem. Após ficar incrédulo por alguns segundos, minha mente finalmente resolveu aceitar o fato de que o homem sentado na cadeira era eu. Não alguém parecido comigo; era David Williams. Cheguei mais perto. Tinha que olhar melhor, mesmo tendo certeza do que era. Ele olhou para mim e eu percebi lágrimas em seus olhos.

"Por favor...por favor, não faça isso. Por favor, não me machuque."

"O que?" Eu perguntei. "Quem é você? Não vou te machucar"

"Sim, você vai..." Ele estava tremendo agora. "Você vai me machucar e eu não quero que você faça isso."
Ele sentou na cadeira com as pernas pra cima, e começou a se balançar para frente e para trás. Na verdade, era algo bem patético, especialmente porque ele era eu mesmo, idêntico de todas as maneiras possíveis.

"Me escute, quem é você?" Eu estava agora a poucos pés do meu Doppelganger. Essa foi a experiencia mais estranha até agora, estar ali falando comigo mesmo. Eu não sentia medo, mas eu iria sentir logo. "Por que você-"

"Você vai me machucar você vai me machucar se quiser sair você vai precisar me machucar."

"Por que você está dizendo isso? Só relaxe, ok? Vamos tentar resolver-" E então, eu vi. O David sentado vestia as mesmas roupas que eu, exceto por um pequeno bordado em sua blusa, com o número 9.

"Você vai me machucar, você vai me machucar, por favor não faça isso, você vai me machucar..."

Meus olhos não conseguiam desviar do pequeno número em seu peito. Eu sabia exatamente o que era. As primeiras portas eram planas e simples, mas depois de um tempo elas foram se tornando mais ambíguas. Porta 7 estava na parede, mas eu mesma a fiz. 8 estava marcada em sangue atrás dos corpos de meus pais. Mas nove - este número estava em uma pessoa, uma pessoa viva. Pior ainda, uma pessoa idêntica à mim.

"David?"Eu tive que perguntar.

"Sim...você vai me machucar você vai me machucar..." Ele continuava soluçando e balançando. Ele respondeu como David. Ele era eu mesmo [----]. Além daquele 9. Eu fiquei estático por alguns minutos, enquanto ele tremia em sua cadeira. Não havia porta na sala, assim como a sala 6, e a porta que eu vim havia sumido. Por algum motivo, eu imaginei que arranhar as paredes não iriam me ajudar muito nisso. Examinei as paredes e o chão em volta da cabeça, esticando minha cabeça para ver se não existia nada mais ali. Infelizmente, existia. Embaixo da cadeira, havia uma faca. Junto com ela, um bilhete em que se lia, "Para David - da Gerência."

O que senti em meu estômago enquanto lia o bilhete foi algo sinistro. Eu queria desistir e a última coisa que eu queria era tirar aquela faca debaixo daquela cadeira. O outro David ainda estava soluçando incontrolavelmente. Minha mente estava girando em um monte de perguntas sem resposta. Quem botou aquilo ali, como sabe meu nome? Sem mencionar o fato de que eu estava ajoelhado no chão e também estava sentado na cadeira implorando para que eu mesmo não me machucasse. Era coisa demais para minha cabeça processar. A casa e seus donos estavam brincando comigo esse tempo todo. Meus pensamentos, por algum motivo, foram para Peter, se ele foi tão longe assim. Se ele foi, se ele conheceu um Peter Terry implorando nesta mesma cadeira, balançando-se para frente e para trás...Tirei esses pensamentos de minha cabeça, eles não importam. Tirei a faca de baixo da cadeira, e imediatamente o outro David ficou quieto.

"David" Ele disse em minha voz, "O que você pensa que vai fazer?"

Me levantei do chão e apertei a faca em minha mão.

"Vou sair daqui."

David ainda estava sentado na cadeira, mas ele estava muito calmo agora. Ele olho para mim com um sorriso fraco. Eu não saberia dizer se ele iria rir ou me estrangular. Vagarosamente, ele levantou da cadeira e ficou de pé, me encarando. Era estranho. Sua altura e até sua postura eram iguais à mim. Eu senti o cabo de borracha da faca em minha mão, e a apertei mais forte. Eu não sabia o que eu iria fazer com ela, mas eu sabia que eu precisava dela.

"Agora", sua vez era um pouco mais profunda que a minha . "Eu vou te machucar. Eu vou te machucar e vou te manter aqui." Eu não respondi. Apenas ataquei o e o manti no chão. Montei nele e olhei para baixo, faca apontada e preparada. Ele olhou para mim, aterrorizado. Era como se eu estivesse olhando em um espelho. Então o zumbido voltou, baixo e distante, apesar de que eu ainda o sentia em meu corpo. David olhou para mim e eu olhei para mim mesmo. O zumbido aumentou e seu senti algo dentro de mim se romper. Com apenas um movimento, enfiei a faca na marca em seu peito e a rasguei. A escuridão encheu o quarto, e eu estava caindo.

A escuridão em volta de mim não era nada que eu havia experimentado até então. Sala 4 era escura, mas não chegava nem perto dessa, que me engolia. Depois de um tempo, eu não tinha nem certeza se estava caindo. Me sentia totalmente sem peso, coberto pela escuridão. Então uma profunda tristeza bateu em mim. Me senti perdido, depressivo, suicida. A visão dos meus pais entrou em minha mente. Eu sabia que não era real, mas eu havia visto, e minha mente estava com problemas para distinguir o que era real do que não era. A tristeza apenas aumentou. Eu estava na sala 9 pelo que pareciam ser dias. A última sala. E era exatamente isso que era: o fim. A Casa sem Fim tinha um final, e eu cheguei nele. Nesse momento, eu desisti. Eu sabia que eu iria ficar nesse estado de limbo para sempre, acompanhado apenas pela escuridão. Nem mesmo o zumbido estava lá para me manter são.

Eu perdi todos os sentidos. Eu não conseguia sentir nem a mim mesmo. Não conseguia ouvir nada. Visão era algo completamente inútil aqui. Procurei por algum gosto em minha boca, mas não achei nada. Me senti desencarnado e completamente perdido. Eu sabia onde eu estava. Era o inferno. Sala 9 era o inferno. Então aconteceu. Uma luz. Uma daquelas luzes clichês no fim do túnel. Então senti o chão vir até mim e eu estava de pé. Após um momento ou dois reunindo meus pensamentos e sentidos, andei devagar para a luz.

Conforme eu me aproximava da luz, ela tomava uma forma. Vinha da fenda de uma porta que não tinha nenhuma marca. Passando pela porta, me encontrei aonde eu comecei: o saguão da Casa sem Fim. Estava exatamente como eu deixei: vazia e decorada com decorações infantis de Halloween. Após tudo o que aconteceu essa noite, eu ainda estava desconfiado de onde eu estava. Depois de alguns momentos de normalidade, olhei em volta para ver se via algo de diferente. Na mesa estava um envelope com meu nome escrito à mão nele. Imensamente curioso, mas ainda com medo, juntei coragem para abrir o envelope. Dentro havia uma carta, também escrita à mão.

David Williams,

Parabéns! Você chegou ao final da Casa sem Fim! Por favor aceite este prêmio como um símbolo de sua grande conquista.

De sua eterna,
Gerência.

Junto com a carta haviam 5 notas de $100.

Não conseguia parar de rir. Eu ri pelo que pareciam ser horas. Eu ri até meu carro e ri no caminho de casa. Eu ri estacionando o carro. Ri quando abri a porta da frente e ri quando vi um pequeno 10 gravado na madeira.

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