Sokushinbutsu, a auto-mumificação

Será que você cometeria suicídio lenta e dolorosamente com o propósito de atingir o esclarecimento religioso? Cerca de 24 monges budistas o fizeram na cidade de Yamagata, no início de 1800. Esta prática era considerada um folclore até que múmias de monges budistas foram descobertas.


Sokushinbutsu foi experimentado por centenas de monges. Como afirmado anteriormente, apenas 24 deles foram bem sucedidos. A experiência de cometer suicídio por monges tem três etapas, e começa por um processo elaborado de 1.000 dias (um pouco menos de três anos).

A primeira etapa consiste em manter uma dieta exclusiva de nozes e sementes. Essa dieta tem como
objetivo eliminar toda a gordura corporal.

Na segunda etapa, que também tem 1.000 dias, os monges passam a se alimentar de cascas e raizes, além de beber um chá feito da seiva da árvore Urishi. Esse chá é considerado venenoso, e tem como efeito colateral, diarréias profusas, suor e urina excessivos e vômitos violentos. Embora o vômito e a diarréia sejam importantíssimos no processo de desidratação do corpo para a mumificação, a seiva venenosa da árvore, que continha traços de soda cáustica e arsênico, é ingerida também, para tornar a carne não comestível e altamente venenosa para os vermes, para que assim o corpo não sofresse os processos de decomposição natural.

No último estágio da auto-mumificação, o monge, bastante debilitado pela dieta e pelo veneno, era trancado em uma tumba de pedra três metros abaixo do solo, um pouco maior do que o seu corpo, onde ele deveria manter a posição de lótus enquanto recitam mantras. Sua única conexão com o mundo exterior era um tubo de ar feito de bambu e um sino. Cada dia, o monge deveria tocar o sino para que as pessoas de fora saibam que ele ainda está vivo. Quando o sino parasse de tocar, o tudo de ar era removido.

Outros 1.000 dias depois, um outro monge era convocado para abrir o túmulo e certificar-se de que o corpo do praticante de sokushinbutsu estava mesmo mumificado. Se tudo saísse conforme o planejado e a mumificação fosse alcançada, o monge era declarado um Buda, e seu corpo era colocado em um templo para visualização pública. A dedicação e espírito de passar por um processo tão horrível era glorificado pelos japoneses.

Havia uma grande concentração de arsênico no sangue dos monges mumificados, causado pela ingestão da seiva da árvore Urishi. As múmias também mantinham as posses dos acessórios que tinham antes da morte. No entanto,seus olhos eram removidos. Mesmo assim, eles são considerados capazes de ver as almas dos vivos e ser capaz de perceber a realidade com perfeição.

É ainda é um mistério, os motivos que levaram esses sacerdotes a se submetem às mortes extraordinariamente prolongadas e dolorosas. Como seguidores do Budismo Esotérico, os monges já levam uma vida de oração, jejum, ascetismo e peregrinação. Uma morte ritual seria, portanto, o ponto culminante de uma busca espiritual ao longo da vida. De acordo com os próprios budistas, os monges praticavam o sokushinbutsu para o bem da população local. Seja para evitar secas, ou doença entre suas comunidades, os monges acreditavam que sua morte ajudaria a aliviar o sofrimento da população.

Há cerca de 28 sokushinbutsu no Japão, o que contrasta com o grande número de "tentativas", que podem passar das 1.000. Isso ocorre porque o processo de mumificação está longe de ser confiável, e muitas vezes o corpo simplesmente se decompõe durante o enterro de 1.000 dias. Nesse caso, o monge não conseguiu tornar-se um sokushinbutsu, e seu corpo é enterrado em uma cova comum. O processo em si foi proibida em 1909 pelo governo Meiji, que realizou uma campanha nacional contra a auto-mumificação budista.