sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Super Post - O massacre de Jonestown

Ontem eu abri uma enquete no grupo, pedindo que os participantes escolhessem qual das 3 opções de post gostariam de ver nessa sexta-feira, e a opção mais votada foi O Massacre de Jonestown. Agradeço à todos os queridos que votaram, e se você quiser participar do grupo, clique AQUI, com certeza será muito bem vindo!

O que é religião? De acordo com o dicionário, religião é a crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência.

Eu não sou muito ligada à religião. Embora eu tenha uma família bem miscigenada neste sentido, com católicos, evangélicos, espíritas e afins, nunca frequentei igreja, culto, templo, centro ou algo do tipo, não por não acreditar em Deus, mas por simples falta de interesse. No entanto, talvez por viver rodeada de diferentes formas de pensar, ou talvez por conta dessa mistura religiosa, aprendi com o tempo que, seja qual for sua religião, é minha obrigação respeitá-la.

As pessoas buscam na religião, respostas às suas expectativas, aos seus desejos e às grandes questões colocadas pela sua existência no mundo. Mas também buscam aceitação, um grupo social no qual consigam se encaixar.

Conheci durante meus 25 anos, muitas pessoas que mudaram sua vida para melhor depois de conhecerem suas religiões. Pessoas que largaram as drogas, a vida boêmia e os maus hábitos depois que começaram a ter fé. Constituíram família, trabalharam honestamente e vivem uma vida boa e feliz. Este, pra mim, é um dos pontos mais positivos das religiões: o poder de transformar a vida de alguém de uma forma favorável.

Entretanto, nem todas as religiões são assim. Algumas delas, criadas com o único intuito de cegar e controlar as pessoas, exercem tanta influência sobre seus fiéis que chegam às margens do perigo. Uma dessas "religiões", que deixou um saldo de nada menos que 918 mortes, dentre os quais, 300 eram apenas crianças é a famigerada Peoples Temple Christian Church Full Gospel, conhecida como Templo dos Povos. Conheça mais sobre ela no post de hoje:


No dia 13 de maio de 1931, nasce em Lynn, um pequeno povoado localizado no estado de Indianna, Estados Unidos, James Warren Jones. Filho do veterano da Primeira Guerra Mundia James Thurman
Jones e da bem mais jovem Lynetta Putnam, Jim Jones, como ficou conhecido, cresceu em um ambiente nada amistoso. Seu pai, um racista ferrenho que inclusive era membro da Ku Klux Klan, vivia às custas da pensão por invalidez dada pelo governo depois de ser vítima de gás mostarda enquanto lutava na Primeira Grande Guerra. Sua mãe, Lynetta, era uma jovem mulher, moderna para a sua época, que não convivia bem com os padrões convencionais da sociedade, usando roupas "masculinizadas" como calças e fumando no meio da rua, se viu obrigada a encarar longas jornadas de trabalho para sustentar a família, sem poder dar ao filho, qualquer momento de atenção. James "Pai" era emocionalmente ausente, sobrado ao pequeno Jim Jones, uma infância solitária em uma família desregulada.

De acordo com o próprio Jim Jones, ele e sua família eram considerados "o lixo" da vizinhança. Já adolescente, ele explorou todas as igrejas da cidade, jogando-se de cabeça em cada um de seus dogmas particulares antes de se desiludir e passar para a próxima.

Com uma retórica impressionante, era evidente que Jones não nascera para seguir, e sim para pregar. Seu professor Phyllis Wilmore, mais tarde, contou que, antes de um jogo de basquete entre sua escola e outra escola rival, Jim decidira organizar um funeral simbólico para o time adversário, e fez um trabalho incrível. "Era como se fosse tudo real. Ele tinha uma auto-confiança incrível no palco", contou Wilmore "Jim tinha aquele cabelo preto como carvão e olhos tão penetrantes que enxergavam o nosso âmago."

Jim formou-se no colégio em 1948, com um interesse e aptidão para a medicina. Enquanto trabalhava em um hospital como estagiário, Jones conheceu Marceline Baldwin, uma estudante de enfermagem, e
eles se casaram em 1949. Em Indianapolis, ele serviu como pastor estudante na Igreja Metodista em 1952, mas optou por fundar em 1956, sua própria igreja em Indianápolis, Indianna, conhecido como O templo dos Povos, onde Jones pregava o princípio da igualdade e a união racial, inclusive aceitando negros como fiéis, algo raríssimo na época. Jones oferecia ao seu rebanho, saúde, educação e emprego, pedindo em troca sua extrema lealdade. Jim Jones também demonstrou grande simpatia pelo marxismo, e o dízimo arrecadado (cerca de 20% do salário) em sua igreja era todo redistribuída aos seus fiéis.

Por estes motivos, aliados à seu dom natural de pregação, o Templo dos Povos cresceu exponencialmente, tonando-se um movimento comunitário contra o racismo e ao que eles acreditavam ser "uma distribuição de riqueza injusta". Isso, é claro, desagradou a população de Indianápolis, pois o racismo na região era bem acentuada na época. Com essa adversidade, Jim Jones mudou sua igreja para a Califórnia em meados dos anos 60, onde viu terreno fértil para abrir outras igrejas do Templo dos Povos, colocando ainda sua sede em São Francisco.


A igreja de Jones cresceu ainda mais, atraindo pessoas ricas que davam grandes valores como dízimo e chamando atenção de muitos políticos, que viram uma oportunidade imperdível de conseguir votos. Nos anos seguintes, o movimento ganhou popularidade suficiente para que Jones circulasse entre os poderosos chegando a ser nomeado Presidente do Órgão de Habitação de São Francisco.

Jones estava cada dia mais se posicionando em patamares jamais imaginados, mas a seita também despertou suspeitas e investigações da mídia americana, que explorou relatos de dissidentes sobre um estilo messiânico e ditatorial do pastor, que exigia ser chamado de Pai pelos fiéis, e afirmava que ele era Deus. Foram revelados também que o pastor utilizava técnicas de lavagem cerebral, abusos sexuais e ameaças contra seus fiéis. Isto, é claro, era prejudicial à imagem, não só do Templo dos Povos, mas também à Jim Jones, que tornou-se paranoico com a ideia de que os EUA estavam atentando contra a sua vida e sua filosofia socialista - lembrem-se que era a época da Guerra Fria, onde o mundo vivia tensionado com a ameaça das duas grandes potências (EUA capitalista x URSS comunista) em vias de se atracar.


Essa paranoia era evidente principalmente dentro do Templo dos Povos, onde Jones passou a pregar sobre um "apocalipse", um "suicídio revolucionário" como ele mesmo chamava. Esse discurso tornou-se cada vez mais frequente durante os cultos, até que em 1974, Jones conseguiu permissão das autoridades da Guiana, um pequeno país da America do sul, para arrendar um terreno em meio à selva e criar uma comunidade agrícola longe dos olhos mais curiosos.

A comunidade agrícola auto-sustentável, posteriormente batizada como Jonestown, ficava há quilômetros de distância de uma pequena aldeia chamada Port Kaituma, que, por sua vez, era o sinal de civilização mais próximo. O assentamento tinha uma escola, casas e um pavilhão central - onde os cultos eram feitos - além de espaço para que os habitantes plantassem verduras e legumes.


Em 1977, Jim Jones descobriu que sua farsa começava a desmoronar: um jornal de grande influência estava prestes a revelar que Jim Jones tomava dinheiro e propriedades de seus fiéis. Era uma central de terror, violência, isolamento, falsos milagres, abusos psicológicos e sexuais. Em questão de horas, apavorado com as denúncias da revistas, ele ordenou a fuga para Guiana. Sem dar satisfação para os amigos e parentes, os fiéis obedeceram.

Não foi uma viagem fácil para o séquito de Jim Jones. A turma composta por quase mil homens, mulheres, e crianças, foi de ônibus de São Francisco para Miami, e de lá pegaram um avião até Georgetown, capital da Guiana. Logo, seguiram viagem em barcos e viajaram por cerca de 24 horas até chegar em Port Kaituma, para só depois chegar em Jonestown. Lá, Jim Jones se viu livre para potencializar suas atitudes ditatoriais, marcadas por punições severas e pela presença de guardas fortemente armadoscontratados por Jones para evitar fugas. Mesmo em sua "terra de leite e mel", como Jones costumava chamar Jonestown, os discursos sobre um "suicídio revolucionário" ainda eram feitos pelo pastor. Além disso, Jones mantinha a população de Jonestown em rédeas curtas. A única fonte de informações era o serviço de alto falantes espalhados por todo o terreno, que transmitia 24 horas por dia a voz de Jones. Sempre sob o efeito de alcool, anfetamina e tranquilizantes, o pastor via traição e perigo em todos os cantos, e a quem desejasse ir embora, disparava acusações de blasfêmia.

As leis em Jonestown eram rígidas: eram puníveis com violência física, ameaças e humilhação publica qualquer pessoa que ousasse tentar fugir, falar mal de Jim Jones e atos que remetessem ao capitalismo. Os trabalhos no campo eram obrigatórios à todos, e a carga horária em Jonestown chegava à 10 horas por dia. Pessoas "preguiçosas" também eram passiveis de punição. Jones, por meio de seus alto falantes, ainda ameaçava: "Se você vir alguém praticando algo do qual eu não gosto, você deve me avisar". Imagina a tensão no qual todas aquelas pessoas viviam.

Em 1978, alertado pela preocupação de parentes de integrantes da comunidade que recebiam
mensagens clandestinas de seus entes queridos aprisionados, o deputado federal Leo Ryan viajou à Guiana com uma delegação de 18 pessoas, incluindo jornalistas, para visitar Jonestown, mesmo após sofrer ameaças. Depois de negociar entrada no local, a visita ocorreu em 17 de novembro de 1978. Ao chegar na cidade, Leo foi recebido com uma grande festa. Ao questionar os moradores, todos foram incisivos ao dizer que "amavam o local", e Leo Ryan ficou fascinado, chegando a dizer inclusive, que "aquilo foi a melhor coisa que aconteceu na vida de muitas daquelas pessoas". Claro, a festa fazia parte do plano de Jim Jones, para dissimular a realidade e todas aquelas pessoas, aparentemente felizes na festa, foram coagidas a agirem dessa forma.

Não demorou muito para que, durante a festa, um homem entregasse um bilhete para um dos repórteres, com um pedido de ajuda. O repórter transmitiu a mensagem para o congressista Leo Ryan, que percebeu de imediato que tudo aquilo não passava de encenação. Ao confrontar Jones, Ryan recebeu um convite para se retirar da propriedade.

No dia seguinte, o se preparar para ir embora, sem nada poder fazer, Ryan se surpreendeu ao ser abordado por várias pessoas, incluindo uma família inteira, que pediam ao congressista, ajuda para voltarem às suas casas. Enquanto ouvia as pessoas, um outro membro da comunidade atacou o deputado com uma faca, que por sorte, se desvencilhou. Muito assustado, Leo Ryan decide partir o mais rápido possível, juntamente com seu comitê e mais 15 dissidentes Acontece que um desses dissidentes era Larry Layton, um dos braços direitos de Jim Jones, conhecido como "robô de Jones". Mesmo estranhando a atitude do homem, o grupo seguiu viagem até uma pista de voo, onde pegaram um avião direto à Georgetown. Quando estavam próximos de partir, o avião de Leo foi atacado por vários tiros: uma comitiva de capangas fortemente armados de Jim Jones seguiu o grupo pela floresta e os atacou em plena pista de voo. Assim que o ataque começou, Larry sacou uma arma e também atirou contra as pessoas de dentro do avião, que havia decolado. Ao todo, cinco pessoas falecerem, dentre eles, 3 repórteres, um dos ex-moradores de Jonestown e, pasmem, Leo Ryan, que foi atingido 20 vezes. Meua migo.. agora a porra ficou séria.


Sem saída, Jim Jones viu-se encurralado. Como um ato desesperado, ele decidiu por em prática seu plano de suicídio revolucionário. Durante o tempo que permaneceu em Jonestown, Jim Jones planejou cuidadosamente cada detalhe, inclusive testando nos próprios fiéis, qual seria a quantidade de cianureto ideal a ser administrado para que fosse letal. Nas chamadas "Noites Brancas", ele escolhia alguns moradores e os obrigava a tomar um chá misturado com o veneno.

Jim Jones então ordenou que seus subordinados preparassem um suco, misturassem à bebida galões de cianureto e distribuído à todos, e depois de um discurso inflamado (que foi gravado em áudio), determinou que as crianças pequenas e os bebês fossem os primeiros a tomar o veneno. Algumas pessoas presentes tentaram argumentar com Jones, mas ele foi incisivo em sua decisão.

Sem saída, os pais administraram o veneno em seus filhos, e se viram desesperados ao ouvi-los sofrer com o veneno, que, dentre outras coisas, pode provocar ardência na boca, rigidez do maxilar, constrição (estreitamento) da garganta, salivação, náuseas, vômitos e falta de ar. No áudio, ouve-se uma das subordinadas de Jim Jones afirmando que os bebês "não estavam chorando por estarem sentindo dor, mas sim, porque 'o gosto do veneno era amargo'" e pedindo que os pais e que as crianças mais velhas tentassem acalmar os pequenos. Ao todo, 303 crianças recebem doses de veneno e pereceram.


Depois que todas as crianças haviam morrido, chegou a vez dos adultos, que tomaram o veneno ao som de Jim Jones, que dizia "se não podemos viver em paz, vamos morrer em paz".

Uma única pessoa conseguiu fugir com vida. Odell Rhodes, quando percebeu o que se passava, conseguiu enganar os guardas armados e correu até Port Kaitmandu avisar às autoridades, que ao chegarem em Jonestown 2 dias depois, se depararam com uma cena chocante: os corpos de 914 pessoas jaziam tombados por toda parte, Mais tarde, o corpo de Jim Jones foi encontrado com um tiro na cabeça.


O massacre de Jonestown conquistou o triste título de maior suicídio coletivo da Era Moderna, e até os atentados do dia 11 de setembro de 1991, considerado o desastre com maior quantidade de vitimas norte-americanas.

Os corpos foram recolhidos e entregues às famílias. Na autópsia, revelou-se que alguns corpos tinham marcas de violência, o que leva a crer que muitas daquelas pessoas foram obrigadas a se envenenar, pois não queriam morrer. Uma investigação posterior concluiu que cerca de 700 pessoas, incluindo as crianças, foram obrigadas a cometer suicídio.


A cidade de Jonestown foi apagada do mapa, mas difícil será apagar da mente, as atrocidades cometidas por um homem louco, que por trás de uma máscara de puro carisma, revelou-se um verdadeiro monstro. Jim Jones é a personificação do mal, a essência da crueldade humana, que como sua estupidez, pode ser infinita. Ele camuflou sua vilania demoníaca em fé, se aproveitou do sofrimento dos mais necessitados para praticar sua maldade.

É um alerta triste às pessoas que se deixam levar por uma oratória chamativa, promessas, favores e presentes. Nada nessa vida vem de graça, e 915 pessoas pagaram os "favores" que receberam de Jones com a própria vida.




Fontes de pesquisa:
Wikipédia: Jonestown
Wikipédia: Jim Jones
G1: Por que mais 900 pessoas se mataram por causa deste homem?
Documentário: Segundos Fatais - Suicídio Coletivo em Jonestown (NatGeo)
Fantástico: Segundos Fatais - Suicídio Coletivo em Jonestown

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